Um dia após a Argentina revelar a instalação de uma cerca na fronteira com a Bolívia, a ministra da Segurança do governo de Javier Milei, Patricia Bullrich, anunciou que haverá um aumento no controle da divisa com o Brasil. “Agora vamos ampliar nossas ações para outros pontos, incluindo a fronteira de Misiones com o Brasil”, afirmou a ministra em uma entrevista. Ela se referiu especificamente às localidades que fazem parte da integração entre os dois países, mencionando Bernardo de Irigoyen e Dionísio Cerqueira (SC).
Bullrich destacou que em várias áreas da divisa entre Misiones e o Brasil é possível atravessar a pé e apontou que há “um problema muito sério” na região, que inclui “assassinatos por pistoleiros”. A ministra também mencionou a diferença nas taxas de câmbio e a valorização do peso argentino em relação ao real brasileiro, o que gera um grande fluxo de produtos entre os dois países. “Estamos fortalecendo gradualmente as diferentes fronteiras (…) e com isso podemos afirmar que teremos um controle muito mais efetivo”, declarou, acrescentando que o controle será ampliado também na fronteira do Paraguai com as províncias argentinas do Chaco e Salta.
Ao ser questionada sobre a possibilidade de construir novas cercas, além da que será erguida em Águas Blancas, que faz divisa com a cidade boliviana de Bermejo, Bullrich disse que o plano de segurança para as fronteiras está sendo constantemente avaliado, com revisões mensais detalhadas, sem descartar a realização de iniciativas semelhantes. Contudo, ela afirmou que, por enquanto, a única cerca prevista é a mencionada na divisa com a Bolívia. Na segunda-feira, foi publicado no diário oficial de Salta um edital para a construção da barreira, que terá 200 metros de extensão e será feita de aço, com arame farpado no topo e postes de concreto.
De acordo com o governo provincial, a cerca, que se estenderá da rodoviária até o posto de migração da cidade, está sendo instalada a pedido do governo Milei. As autoridades destacaram que muitos indivíduos não passam pelos controles migratórios ao entrar no país. Essa medida faz parte do Plano Güemes, destinado à segurança nas fronteiras, visando combater contrabando, tráfico de drogas e de pessoas. “Estamos deslocando cada vez mais efetivos na área”, enfatizou Bullrich, referindo-se às forças de segurança que patrulham a região, e explicou que o objetivo da cerca é direcionar as pessoas que chegam por barco, pelo rio, para os pontos de controle migratório.
Quando indagada sobre a possibilidade de que a cerca tenha eletricidade, ela negou e considerou a ideia “insensata”. “Atualmente, existe um muro, mas é baixo, as pessoas pulam. O muro será trocado pela cerca”, justificou.
Preocupações do governo boliviano surgiram em resposta ao anúncio da cerca na fronteira. “As questões fronteiriças devem ser tratadas por meio de mecanismos de diálogo bilaterais estabelecidos entre os Estados para buscar soluções coordenadas para assuntos comuns. Qualquer ação unilateral pode impactar na boa vizinhança e na convivência pacífica entre povos irmãos”, comunicou o ministério das Relações Exteriores da Bolívia. A chancelaria de Luis Arce ainda informou que solicitará à Argentina informações sobre a iniciativa através de canais diplomáticos, para tomar as medidas adequadas. Em resposta, Bullrich afirmou: “Dentro da nossa fronteira, fazemos o que queremos. Estamos construindo uma cerca em nossa casa, em nossa pátria”.