sexta-feira, janeiro 31, 2025
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Mulheres no comando: descobertas arqueológicas mostram a força feminina

Uma pesquisa publicada na revista Nature revelou novas informações sobre a estrutura social das comunidades celtas na Grã-Bretanha durante a Idade do Ferro (cerca de 800 a.C. a 100 d.C.), destacando a importância das mulheres. O estudo, que analisou o DNA de 57 indivíduos enterrados em cemitérios do povoado de Durotriges, na costa sul da Inglaterra, concluiu que essas sociedades adotavam práticas matrilocais. Nesse contexto, as mulheres permaneciam nas terras de suas famílias após o matrimônio, enquanto os homens se deslocavam para viver com suas esposas.

Esse modelo social difere do predominante em épocas passadas na Europa, como no Neolítico (aproximadamente 10.000 a 2.000 a.C.) e na Idade do Bronze (cerca de 3.300 a 1.200 a.C.), quando sistemas patrilocais eram comuns — onde as mulheres se mudavam para a família de seus maridos. De acordo com os pesquisadores, a permanência das mulheres nas comunidades moldava não apenas a estrutura familiar, mas também influenciava as práticas culturais e econômicas locais.

Os rituais de sepultamento também indicam a relevância feminina. No povoado de Durotriges, que existiu entre 100 a.C. e 100 d.C., as sepulturas de mulheres frequentemente continham objetos valiosos, como joias e utensílios, evidenciando seu status elevado, possivelmente associado à liderança familiar ou à posse de terras. A análise genética também indicou que a maior parte dos indivíduos enterrados tinha vínculos por linhagem materna, reforçando o papel central das mulheres na formação das famílias. Em contraste, os homens enterrados não apresentavam ligação genética com as mulheres, sugerindo que migravam de outras regiões para se casarem.

Outro aspecto importante foi a prevalência de um marcador genético mitocondrial raro, conhecido como U5b1, em mais de dois terços das mulheres analisadas. Essa característica sugere que Durotriges era uma comunidade relativamente fechada, onde a maioria dos casamentos ocorria dentro do próprio grupo.

Apesar de sua singularidade social, essas comunidades não eram isoladas. A análise genética revelou conexões entre a população de Durotriges e outras partes da Europa, como França, Países Baixos e Tchéquia. Isso indica uma constante troca cultural entre a Grã-Bretanha e o continente europeu durante a Idade do Ferro, influenciando aspectos da cultura local, incluindo a introdução das línguas celtas.

Essa interação com o continente parece ter acontecido em diferentes períodos históricos. Embora grande parte da Grã-Bretanha tenha mantido uma continuidade genética desde a Idade do Bronze, a região sul, onde estava localizado o povoado de Durotriges, mostrou sinais de migração significativa de ancestrais europeus. Isso sugere que a área pode ter funcionado como um ponto estratégico para novas influências externas.

A descoberta de práticas matrilocais e do possível prestígio feminino reforça a noção de que, de modo diferente de outras partes da Europa, as comunidades britânicas da Idade do Ferro valorizavam a figura feminina em papéis de liderança. Registros históricos romanos já indicavam que as mulheres celtas desfrutavam de maior liberdade e poder em comparação a outras culturas contemporâneas. A figura de Boudica, rainha da tribo Iceni, que liderou uma revolta contra os romanos no século I d.C., é um exemplo notável dessa importância feminina.

No entanto, os pesquisadores alertam que as narrativas romanas podem ter sido exageradas para destacar o caráter “exótico” das tribos celtas para um público mediterrâneo patriarcal. A pesquisa genética e arqueológica, por sua vez, oferece bases sólidas para entender melhor o papel das mulheres nessas sociedades — que não apenas eram figuras centrais na formação das famílias, mas também exerciam grande influência sobre práticas sociais e culturais. Os autores do estudo sugerem que, embora a matrilocalidade não indique necessariamente igualdade de gênero, está associada a uma maior autonomia e prestígio feminino.

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