Após 80 anos submerso, o navio ‘Vital de Oliveira’, que foi afundado por um submarino alemão durante a Segunda Guerra Mundial, foi encontrado pela Marinha na costa do Brasil. A embarcação foi destruída em 1944 por torpedos, resultando na morte de 99 das 270 pessoas a bordo. O navio foi localizado a 65 quilômetros da costa de Macaé (RJ) durante uma missão de pesquisa relacionada a um navio que curiosamente também se chama ‘Vital de Oliveira’, realizada no último dia 16 de janeiro, embora essa informação tenha sido divulgada apenas agora.
Para o professor do Instituto de Estudos Estratégicos da Universidade Federal Fluminense (UFF), Eduardo Heleno, essa descoberta representa um passo importante na preservação da memória sobre o papel do Brasil na guerra. “A lembrança da participação do Brasil na Segunda Guerra Mundial é algo que merece reconhecimento. O país esteve presente no maior conflito do século XX, enviando uma Força Expedicionária com mais de 25 mil soldados. Uma das razões para o Brasil entrar em guerra foi o afundamento de diversos navios mercantes brasileiros, tanto no Atlântico quanto no Mediterrâneo, afetando militares e civis, incluindo mulheres e crianças”, explica Heleno.
A expedição, chamada “Testes de Mar e Comissionamento”, representa um avanço importante na arqueologia naval brasileira. A identificação do casco foi possibilitada pelo esforço conjunto de militares, mergulhadores locais e tecnologia de ponta. O professor ressalta que mais de trinta embarcações brasileiras foram afundadas durante esse período. “O primeiro ataque ocorreu em 1941, quando o navio Taubaté, que navegava próximo ao Egito, foi atingido por disparos de aeronaves alemãs. No ano seguinte, em 1942, outros navios foram afundados durante a guerra submarina dos alemães, no contexto da batalha do Atlântico. De 1942 a 1944, foram 33 navios perdidos, sendo que o último deles, em julho de 1944, foi exatamente o Vital de Oliveira”, conclui Heleno.
O ecobatímetro possibilitou a geração de modelos tridimensionais do naufrágio, enquanto o sonar produziu imagens detalhadas do casco. No total, foram realizadas 32 linhas de sondagem e 9 linhas de varredura lateral, abrangendo uma ampla área ao redor do local. “Naufrágios e outras estruturas submersas são registros materiais que contam a história marítima do Brasil. Essas evidências ajudam a entender rotas comerciais, estratégias navais, avanços tecnológicos, além de eventos como confrontos militares e desastres marítimos. Em alguns casos, as embarcações naufragadas estão ligadas a períodos específicos, como a Segunda Guerra Mundial, o que agrega relevância estratégica e diplomática ao seu estudo”, elucida o Capitão-Tenente Demilio, integrante da expedição.
Os equipamentos utilizados possibilitaram a captura de imagens inéditas do casco do antigo navio auxiliar ‘Vital de Oliveira’. A localização do naufrágio contou com a ajuda dos mergulhadores José Luiz e Everaldo Meriguete, que, após serem alertados por um pescador, identificaram a presença de um canhão no fundo do mar e notificaram a Marinha. O Navio de Pesquisa Hidroceanográfico ‘Vital de Oliveira’ desempenha um papel ativo em prol da ciência, coletando dados inéditos de seu homônimo.
A antiga embarcação é reconhecida como o único navio militar brasileiro que foi torpedeado por forças inimigas durante a Segunda Guerra Mundial. Os próximos passos da pesquisa incluem o processamento dos dados para criar modelos tridimensionais mais precisos, além de realizar mergulhos técnicos e usar veículos subaquáticos operados remotamente para obter fotos, vídeos e outros dados. A descoberta será integrada ao projeto “Atlas dos Naufrágios de Interesse Histórico da Costa do Brasil”, uma iniciativa da Marinha para catalogar embarcações naufragadas ao longo do litoral.