19 abril 2025
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Nazismo e Ocultismo: A Conexão entre Crenças Esotéricas e Totalitarismo

Em 1943, Heinrich Himmler, um dos líderes do regime nazista, recrutou um grupo de astrólogos e parapsicólogos. Ele ofereceu-lhes bebidas alcoólicas, charutos e comidas requintadas, pedindo que, por meio de suas habilidades, descobrissem a localização de Benito Mussolini, o ditador italiano que havia sido deposto e capturado meses antes. O intuito era libertar Mussolini e reinstalá-lo no poder, visto que ele era considerado um aliado crucial da Alemanha durante o avanço dos Aliados na Europa.

Esse episódio não foi uma simples extravagância. Ele se insere em um contexto mais amplo de crenças sobrenaturais que dominavam a mentalidade de muitos alemães e líderes nazistas durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Conceitos pseudocientíficos, como terapias naturais e ocultismo que exaltava a raça ariana enquanto demonizava os judeus, floresceram nesse cenário. Além disso, tradições e rituais foram utilizados para criar uma nova forma de religião pagã. As repercussões dessas crenças podem ser vistas na cultura contemporânea, como em filmes e quadrinhos, mas durante as décadas de 1930 e 1940, elas influenciaram a expansão territorial do Terceiro Reich e a perseguição a diferentes etnias.

O historiador americano Eric Kurlander dedicou anos de estudo para investigar como essas ideias supersticiosas influenciaram as decisões dos nazistas. Seu trabalho está documentado na obra “Os Monstros de Hitler”, que foi recentemente publicada no Brasil. Este livro revela como crenças sem fundamento, superstições e teorias conspiratórias, já presentes na cultura germânica, ganharam espaço após a derrota e as crises financeiras e morais que se seguiram à Primeira Guerra Mundial (1914-1918).

Kurlander explica que três elementos foram fundamentais nesse “imaginário sobrenatural”: pseudociência, ocultismo e religiões alternativas ou pagãs. Em suas pesquisas, ele descobriu que não apenas figuras como Himmler e Hitler se interessavam por essas ideias, mas que havia uma curiosidade geral entre os nazistas, que as utilizaram em determinados momentos para fins políticos. O autor detalha como essas doutrinas e mitos contribuíram para a estratégia do Reich, que buscava aniquilar seus inimigos e estabelecer um novo ordenamento mundial.

Técnicas como a radiestesia, que supostamente poderiam indicar os melhores caminhos, eram utilizadas, assim como a crença de que os alemães eram descendentes de uma raça superior ligada a deidades nórdicas. Isso levou Himmler a autorizar expedições à Ásia em busca de raízes ancestrais. Nostalgia por lendas de vampiros e o simbolismo do lobisomem foram empregados para justificar a brutalidade contra os eslavos. Mais ainda, os nazistas idealizaram a criação de tecnologias extraordinárias, como armas que poderiam controlar raios, buscando inverter a maré da guerra.

Essas crenças também influenciaram a percepção de ameaças, como o inverno russo, que foi minimizado pelos líderes, confiantes em uma suposta resistência à frieza. A fusão entre magia e tecnologia se tornou um aspecto preocupante dos propósitos obscuros do regime. Um questionamento permanece: se as crenças místicas não tivessem tanta adesão, o resultado do conflito poderia ser diferente? Embora a resposta não seja clara, Kurlander sugere que, de qualquer forma, isso revela a forma como a mentalidade supersticiosa impactou as decisões políticas nazistas.

Além disso, o misticismo não desapareceu com o fim da Segunda Guerra Mundial. Outro livro, “Uma Terra Assombrada por Demônios”, da historiadora Monica Black, revela como os misticismos prosperaram em meio à devastação deixada pelos conflitos na Alemanha. Black examina, especificamente, o fenômeno de Bruno Gröning, que atraiu muitos com suas alegadas habilidades curativas e que enfrentou problemas legais. Este caso ilustra como, em tempos de crise, a busca por respostas em esferas além do cotidiano se intensifica.

As lições tiradas das interações entre ocultismo e pseudociência há mais de oitenta anos ainda se aplicam à atualidade, marcada por ascensos de tendências totalitárias. Kurlander, após publicar seu livro, realizou um estudo com psicólogos para investigar as conexões entre essas crenças históricas e a mentalidade contemporânea. Os resultados indicaram que indivíduos com forte crença em fenômenos sobrenaturais tendem a ter inclinações autoritárias. Exemplos de fenômenos contemporâneos, como o terraplanismo e movimentos antivacina, demonstram que a influência de crenças não científicas ainda persiste na sociedade atual.

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