O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), abordou em uma entrevista à publicação norte-americana The New Yorker o papel das redes sociais na disseminação da extrema direita, classificando-o como “o novo populismo extremista digital”. Ele destacou que a extrema direita percebeu, durante a Primavera Árabe, que as redes sociais poderiam ser utilizadas para mobilizar pessoas sem a necessidade de intermediários. Inicialmente, os algoritmos foram aprimorados para fins econômicos, visando cativar consumidores; posteriormente, as pessoas identificaram a possibilidade de redirecionar esse poder para a esfera política.
Além disso, Moraes apontou que, se Joseph Goebbels, o ministro da propaganda do regime nazista, estivesse vivo e tivesse acesso à plataforma X, “est estaríamos condenados”, pois “os nazistas teriam dominado o mundo”. O ministro ressaltou a estratégica utilizada pela extrema direita para ganhar força no cenário político, a qual se baseia na descredibilização do processo eleitoral. Ele afirmou que essa ideologia busca conquistar poder sem uma oposição direta à democracia, uma vez que isso não angariaria apoio popular, mas sim sustentando que as instituições democráticas estão sob manipulação.
Durante sua análise, Moraes recordou uma comparação feita pelo empresário Elon Musk, que o descreveu como uma “mistura de Voldemort com um Sith”, personagens de ficção da literatura de fantasia. O ministro, ao comentar essa afirmação, expressou que a considerou engraçada e relembrou a suspensão da plataforma X no Brasil por não cumprimento de ordens judiciais. Ele enfatizou que, assim como outras empresas, essa também deve aderir às leis brasileiras e que, por desobediência, Musk assumiu responsabilidade direta.
Moraes também examinou o impacto do discurso do ex-presidente Jair Bolsonaro sobre os eleitores, observando que a extrema direita conseguiu manipular o termo “liberdade”, fazendo com que as pessoas acreditassem que eram as verdadeiras defensoras da democracia, um resultado que ele descreveu como “um impressionante feito de lavagem cerebral”. Ele estabeleceu um paralelo entre as alegações de fraude nas eleições por parte de Donald Trump nos Estados Unidos e as declarações similares de Bolsonaro sobre as urnas eletrônicas no Brasil, destacando que o foco não estava nos métodos de votação, mas na deslegitimação do sistema como um todo.
Por fim, sobre os acontecimentos antidemocráticos de 8 de janeiro de 2023, Moraes afirmou que existia um risco real de ruptura democrática no Brasil, um risco que ainda persiste. Ao ser questionado sobre a possível ligação de Bolsonaro com os ataques aos Três Poderes, o ministro optou por não entrar em detalhes devido ao seu papel como relator do caso no STF.