Enquanto a indústria alimentícia busca alternativas com menores emissões de carbono, a startup Brown Foods, localizada em Boston, está prestes a lançar o UnReal Milk, que se caracteriza como o primeiro leite integral de vaca desenvolvido em laboratório, sem a necessidade do manejo de uma única vaca. Os criadores do UnReal Milk afirmam que o produto é elaborado por meio do cultivo de células mamíferas, conseguindo replicar a nutrição, o sabor e a textura do leite tradicional. Este leite pode ser utilizado no processamento de produtos como manteiga, queijo e sorvete, apresentando-se como uma opção de baixo carbono. A empresa destaca que sua tecnologia reduz em 82% as emissões de gases, diminui o consumo de água em 90% e diminui o uso de terras em 95%, sem a dependência da pecuária convencional.
A Brown Foods considera sua inovação como uma solução para os desafios históricos da produção de laticínios. Segundo o cofundador e CEO, a produção de leite está atrelada a questões como a emissão de metano, que representa 30% das emissões globais desse gás, e problemas relacionados à adulteração na cadeia de suprimentos. Além disso, a produção tradicional de leite é sensível a condições climáticas e dificuldades de regulamentação, como evidenciado durante a pandemia de Covid-19. O UnReal Milk visa oferecer uma alternativa escalável, sustentada por tecnologia, que possibilita um método de produção mais seguro e controlável.
Em um período de apenas três anos, a equipe da Brown Foods atingiu seus objetivos, enquanto outras startups levaram mais de seis anos para chegar a resultados similares. A empresa obteve US$ 2,36 milhões em financiamento inicial de investidores como Y Combinator e AgFunder, e agora está se preparando para comercializar seu produto tanto nos EUA quanto na Índia. O UnReal Milk está atualmente em fase de validação laboratorial, com testes independentes comprovando a presença de todas as proteínas essenciais encontradas no leite convencional. A empresa declarou que o produto contém as mesmas gorduras e carboidratos que são típicos do leite tradicional.
O especialista em manufatura biofarmacêutica, Richard Braatz, professor no MIT, elogiou o avanço técnico da Brown Foods ao produzir leite cultivado em laboratório, que pode ser visto como um marco na indústria. O cenário atual de desafios ambientais, como o aumento das emissões de gases de efeito estufa e a escassez de água, tem impulsionado inovações em proteínas vegetais e na produção em laboratório. As alternativas aos laticínios estão rapidamente se tornando viáveis no mercado, à medida que os investimentos e os avanços tecnológicos se expandem.
O setor de alternativas aos laticínios está previsto para crescer significativamente nos próximos anos, com expectativas de aumentar de US$ 31,13 bilhões em 2023 para US$ 70,60 bilhões em 2031. Este crescimento pode indicar que produtos de laticínios sem origem animal podem obter uma parte considerável do mercado tradicional. Recentemente, fundos de capital de risco relataram retornos financeiros significativos para investimentos em empresas de laticínios cultivados.
Embora a carne cultivada tenha capturado a maior parte da atenção e financiamento, produtos lácteos cultivados em laboratório estão começando a receber destaque. Startup como Remilk e Perfect Day têm utilizado fermentação de precisão para desenvolver proteínas lácteas que não requerem vacas, enquanto a tecnologia da Brown Foods se diferencia ao cultivar células mamárias, garantindo uma composição completa do leite que pode ser transformado em diversos produtos sem aditivos.
Os desafios para a aceitação dos laticínios cultivados permanecem, incluindo a resistência de alguns setores tradicionais à utilização do termo “leite” para produtos que não derivam de vacas. Entretanto, a proposta da Brown Foods não se limita a replicar o leite, mas visa recriá-lo em nível molecular e em larga escala. A empresa considera que sua tecnologia pode oferecer soluções alimentares em diversas condições, incluindo climas extremos e situações de emergência.
A Brown Foods planeja realizar testes de sabor em 2025, com um lançamento comercial previsto para 2026. O cofundador da empresa destaca que, embora o foco inicial seja no leite de vaca, a tecnologia possui potencial para produzir leite de diferentes espécies, incluindo o humano. O objetivo é garantir a segurança alimentar global, independente das circunstâncias.
O avanço da Brown Foods será monitorado enquanto a indústria alimentícia continua a explorar alternativas à produção de laticínios tradicionais, ainda que os resultados e a aceitação por parte dos consumidores estejam em desenvolvimento.