Letícia Friedrich, de 40 anos, é uma profissional com ampla experiência no cinema, atuando nas áreas de produção e distribuição. Atualmente, ocupa o cargo de sócia e diretora da Vitrine Filmes, responsável pela distribuição do filme brasileiro “O Agente Secreto”, de Kleber Mendonça Filho, que recebeu reconhecimento no Festival de Cannes, na França. Em uma entrevista, ela discute os desafios enfrentados no setor audiovisual, especialmente na perspectiva feminina, além do papel das distribuidoras em um cenário de múltiplas plataformas de exibição e a fase promissora que o cinema brasileiro está vivenciando.
A relação de Letícia com o cinema começou na adolescência, quando expressou aos pais o desejo de seguir essa profissão. O impulso veio com um presente especial de seu pai: o livro “Fazendo Filmes”, de Sidney Lumet, que confirmou sua vocação. Com apoio familiar, Letícia se formou em Cinema, completou uma pós-graduação na área e atua na indústria desde os 17 anos.
Letícia menciona que sua inspiração provém de movimentos cinematográficos e práticas coletivas e autorais. O Cinema Novo brasileiro e a Nouvelle Vague francesa são referências, sendo que ambos exercem impacto pela sua urgência política e inovação narrativa. O cinema asiático dos anos 2000 também foi crucial, influenciando-a com sua sensibilidade e estilo visual. Mais recentemente, o cinema independente norte-americano, incluindo cineastas como Sean Baker e Greta Gerwig, tem acrescentado novas perspectivas à sua inspiração.
Em relação aos desafios do setor no Brasil, Letícia aponta que existe um público em formação para o cinema brasileiro independente, o que demanda estratégias constantes de engajamento e interesse em torno das obras. A instabilidade nas políticas públicas e nos mecanismos de fomento também afeta diretamente a sustentabilidade da distribuição independente.
Como mulher no setor, Letícia destaca a necessidade de reafirmar sua competência diante de um ambiente majoritariamente masculino. Ela reconhece as especificidades da distribuição, mas argumenta que os obstáculos refletem desigualdades mais amplas presentes em toda a indústria.
Sobre o papel das distribuidoras em um cenário de “múltiplas telas”, Letícia defende a necessidade de incorporar estratégias de audiência desde a fase de roteirização. A distribuidora deve atuar como uma parceira criativa, facilitando a conexão do filme com seu público em um ambiente de consumo fragmentado.
O cinema brasileiro vive um momento de destaque internacional, com produções como “Ainda Estou Aqui” e “O Agente Secreto” recebendo prêmios importantes. Letícia observa que esse reconhecimento não só é gratificante, mas também fomenta o interesse interno, com um aumento no público comparecendo às salas de exibição. A frequência de filmes brasileiros entre os mais assistidos revela um cenário favorável para a indústria.
Além disso, a repercussão internacional de filmes brasileiros abre novas possibilidades. Este ano, o Brasil foi o país foco do Marché du Film no Festival de Cannes, um dos principais mercados de cinema do mundo. Prêmios e reconhecimentos recentes têm contribuído para essa visibilidade, reforçando a força do cinema brasileiro em escala global.
Letícia também revela que há vários projetos em desenvolvimento. Recentemente, foram concluídas as filmagens de um documentário sobre Gilberto Gil, que explora sua atuação política. Estão em pós-produção filmes como “Leite em Pó”, dirigido por Carlos Segundo, e “Dentro do Ruído”, da cineasta argentina Martina Juncadella. Além disso, quatro novos longas-metragens estão sendo desenvolvidos, destacando a dinâmica e o potencial criativo no setor.