A transformação no mundo do trabalho está em andamento, impulsionada por automação, inteligência artificial e novos modelos de negócio. Nesse contexto, as empresas e as pessoas são desafiadas a se adaptarem. O que está se tornando mais relevante do que a formação acadêmica e o histórico profissional é a capacidade de uma pessoa desempenhar funções específicas.
A experiência universitária é valorizada, e a formação técnica proporciona habilidades fundamentais, como a capacidade de investigar problemas, analisar dados e desenvolver soluções. No entanto, muitas das competências essenciais para o ambiente de trabalho não estão diretamente relacionadas ao currículo acadêmico. Habilidades como comunicação, empatia, tomada de decisão sob pressão e liderança se destacam como fundamentais. Algumas dessas competências são adquiridas durante a formação, enquanto outras surgem na prática.
Nos últimos anos, tem-se reforçado a importância da contratação baseada em habilidades, e não apenas em diplomas. Há exemplos de profissionais que, mesmo vindo de áreas distintas, mostram excelência em suas atuações devido a habilidades adquiridas ao longo de suas trajetórias. Isso sugere que a formação acadêmica, embora importante, não deve ser o único critério de seleção.
A educação formal é crucial, mas o acesso ao ensino superior de qualidade ainda é um privilégio para poucos no Brasil. Dados do IBGE revelam que apenas 19,7% da população brasileira com 25 anos ou mais completou a universidade em 2023. Essa realidade indica que, ao focar apenas nos diplomas, muitas vezes se perde a oportunidade de reconhecer talentos valiosos que desenvolveram suas habilidades por meio de experiências práticas ou cursos não convencionais.
A tendência de contratar com foco em habilidades está crescendo globalmente, trazendo benefícios tanto para as empresas quanto para os profissionais. Conforme um relatório do LinkedIn, mais de 45% dos recrutadores passaram a considerar dados de habilidades em suas contratações em 2024, um aumento em relação ao ano anterior. Além disso, pesquisas apontam que recrutadores que utilizam essa abordagem têm 60% mais chances de sucesso em suas contratações.
Ao analisar o mercado de trabalho, é crucial considerar o profissional como um conjunto. Embora a formação acadêmica seja necessária em áreas específicas, é a combinação de conhecimento formal com habilidades práticas que determina o sucesso. Profissionais em diversas áreas, como a medicina ou a engenharia, precisam não apenas de qualificações técnicas, mas também de habilidades interpessoais.
Assim, profissionais de enfermagem, mecânica ou beleza precisam demonstrar competências que vão além da técnica, como tomada de decisão, diagnóstico e gestão de clientes. Tais habilidades são formadas na prática e não estão normalmente registradas em um diploma.
Embora a formação acadêmica não tenha garantido um posicionamento específico, a história pessoal reflete a importância de oportunidades que, muitas vezes, são limitadas no Brasil. Isso evidencia que muitos talentos não chegam a posições relevantes porque não têm chance de demonstrar suas capacidades. Portanto, a contratação baseada em habilidades pode não apenas ampliar horizontes para empresas, mas também ajudar a equilibrar oportunidades no mercado.
O Brasil precisa avaliar e valorizar as contratações de maneira mais abrangente, o que facilita um acesso mais igualitário às oportunidades. Essa abordagem também permite que as empresas descubram talentos em lugares inesperados. Assim, uma das habilidades mais importantes a ser desenvolvida pela sociedade é a capacidade de enxergar além do óbvio.
