Durante anos, o megalodon, um tubarão pré-histórico, foi amplamente reconhecido como um predador temido nos oceanos do passado, em particular por sua relação com as baleias. Contudo, investigações recentes revelam que sua ecologia era mais intrincada e fascinante do que se pensava anteriormente.
Pesquisadores publicaram um artigo na revista Earth and Planetary Science Letters, onde aplicaram técnicas geoquímicas avançadas para examinar o esmalte dos dentes fossilizados do megalodon. Os resultados indicam que esse animal extinto podia ter uma dieta diversificada, consumindo diferentes presas de acordo com a disponibilidade ambiental. O estudo focou na análise de isótopos de zinco presentes nos dentes, que funcionam como uma "impressão digital" do que um animal comeu ao longo da vida.
A pesquisa, liderada por um grupo da Universidade Goethe, na Alemanha, incluiu a análise de 209 dentes fósseis que pertenciam a 21 espécies diferentes, tanto marinhas quanto terrestres, datados do Mioceno, entre 20 e 16 milhões de anos atrás. Os fósseis foram coletados no sul da Alemanha, em um antigo canal marinho, ou seja, um ambiente propício para a avaliação da dieta do megalodon em comparação com outras espécies contemporâneas, como tubarões e golfinhos.
O estudo se destaca pelo método inovador de usar a proporção de isótopos de zinco para determinar a posição trófica dos animais, ou seja, o seu lugar na cadeia alimentar. Tradicionalmente, os isótopos de nitrogênio eram empregados nesse tipo de análise, mas sua degradação em fósseis de idade avançada pode comprometer os resultados. Em contrapartida, os isótopos de zinco são mais estáveis.
Os resultados mostraram que os dentes do megalodon apresentaram alguns dos menores valores de isótopos de zinco entre os fósseis analisados, posicionando-o no topo da cadeia alimentar marinha. Além disso, a análise de Carcharodon hastalis, um ancestral possível do tubarão-branco atual, revelou valores de zinco mais elevados, sugerindo que este se alimentava em um nível trófico inferior ou apresentava uma dieta distinta.
Os cientistas também examinaram espécies marinhas contemporâneas para estabelecer comparações. Mesmo atualmente, predadores de topo como as orcas possuem valores de isótopos de zinco baixos, corroborando a ideia de que esses parâmetros são representativos de níveis tróficos em predadores.
Embora as conclusões não sejam inéditas, o novo método é significativo. Esta é a primeira utilização de isótopos de zinco para analisar predadores marinhos extintos, o que pode oferecer novos insights sobre as dietas e posições ecológicas de outras espécies. Os ecossistemas antigos, portanto, apresentavam complexidades que não são tão diferentes das que observamos hoje, com predadores top-tier e cadeias alimentares elaboradas, mostrando que a adaptabilidade era crucial para a sobrevivência.