Em um outdoor, três imagens de corações (o órgão) são exibidas lado a lado, cada uma com as palavras branco, preto e amarelo sobre elas. Ao lado, encontra-se o logotipo de uma marca de roupas italiana. Em outra campanha, uma mancha de sangue vermelha se espalha sobre um fundo muito claro; na parte superior da imagem, um apelo da comissão da ONU em apoio aos refugiados solicita doações para os deslocados pela guerra em Kosovo. Por trás dessas propagandas provocativas e fora do comum estava um fotógrafo italiano, que faleceu recentemente, aos 82 anos, vítima de uma doença metabólica rara e incurável.
Durante seis décadas, ele deixou sua impressão no setor publicitário ao trazer assuntos de grande relevância social, como racismo, religião, guerra, anorexia, homossexualidade e fome, para um meio que muitas vezes carecia de ativismo.
Uma das suas campanhas mais notáveis lidou com racismo e apresentou imagens impactantes, como uma mulher negra amamentando uma criança branca, refletindo a diversidade e promovendo a aceitação.
O primeiro grande escândalo associado ao seu trabalho ocorreu na década de 1970, quando uma publicidade da marca Jesus Jeans mostrava um close nas nádegas de uma modelo usando um short da marca, acompanhada da frase: “quem me ama, me segue” – uma ironia clara ao nome da grife. Isso não o fez recuar; na década seguinte, ele se uniu à Benetton e criou várias campanhas que exploravam o contraste de tonalidades de pele, incluindo a famosa imagem de uma mulher negra amamentando uma criança branca e as clássicas fotos de modelos de diferentes etnias se abraçando.
Em uma homenagem ao fotógrafo, a marca declarou nas redes sociais: “Para explicar certas coisas, palavras não bastam. Foi isso que você nos ensinou. Adeus, continue sonhando”.
Ele também trouxe à tona questões de saúde que na época não eram muito discutidas — em uma de suas produções, exibiu a imagem de um homem no hospital em fase terminal devido à Aids; em outra, apresentou uma modelo que lutava contra a anorexia. Em 2011, mesmo em um mundo mais liberal, ele gerou controvérsia ao mostrar uma montagem de figuras proeminentes se beijando, incluindo o Papa e um imã. “Não é uma foto que faz história, é uma escolha ética, estética e política”, declarou certa vez. O legado que ele deixa é inigualável e serve como aprendizado para um setor que muitas vezes evita confrontar os problemas do mundo.