As Nações Unidas manifestaram sua desaprovação em relação à declaração do presidente dos Estados Unidos, que sugeriu que o país deveria “assumir” a Faixa de Gaza e realocar os palestinos para outras nações. O Escritório de Direitos Humanos da ONU, com sede em Genebra, ressaltou que “qualquer transferência forçada ou deportação de pessoas de um território ocupado é estritamente proibida”. O organismo destacou a importância de avançar nas negociações para a continuidade da trégua no conflito entre Israel e Hamas, visando a libertação de todos os reféns, o término do conflito e a reconstrução de Gaza, sempre respeitando o direito humanitário internacional.
Após encontro com o primeiro-ministro israelense, Donald Trump sugeriu que os palestinos deveriam deixar a Faixa de Gaza e que os Estados Unidos poderiam assumir o controle da região. Segundo o presidente, a proposta envolveria a reconstrução do território sob uma nova administração, com foco em desenvolvimento econômico e criação de empregos. Trump afirmou que, em vez de os palestinos voltarem para reconstruir Gaza, os Estados Unidos iriam “tomar conta” da situação e sugeriu a possibilidade de buscar “pedaços de terra” para reassentar os palestinos em países vizinhos. O primeiro-ministro Netanyahu não comentou diretamente a proposta, mas reafirmou os objetivos de Israel, incluindo a libertação de reféns e a eliminação de ameaças provenientes de Gaza.
A proposta recebeu rápida condenação da comunidade internacional. Países como França, Espanha, Reino Unido e Rússia expressaram oposição à ideia e repudiaram qualquer tentativa de remoção forçada dos palestinos. O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China declarou que Pequim é contrária à “transferência forçada” e defende que Gaza deve ser administrada pelos próprios palestinos. O secretário-geral das Nações Unidas também criticou a proposta, classificando-a como um risco de “limpeza étnica”, que pode prejudicar permanentemente a realização de um Estado Palestino.
Jordânia e Egito, por sua vez, rejeitaram a possibilidade de receber palestinos deslocados, afirmando que esses têm o direito de permanecer em suas terras. O chanceler jordaniano destacou que a Jordânia é para os jordanianos e a Palestina é para os palestinos, reafirmando a firme posição do país sobre a questão. A Arábia Saudita, por sua vez, também repudiou a sugestão de Trump, afirmando que não estabelecerá laços diplomáticos com Israel até que um Estado Palestino seja reconhecido.
Em Israel, o ministro das Finanças, representante da extrema direita, apoiou a ideia de realocar palestinos para outros países, destacando que essa poderia ser uma oportunidade para que eles reconstruíssem suas vidas. Ele afirmou que a proposta poderia permitir que os palestinos, após anos de conflito, encontrassem novos lugares para iniciar uma vida melhor.
A declaração de Trump ocorre em um contexto de delicado cessar-fogo entre Israel e Hamas, que começou em 19 de janeiro, após mais de 15 meses de guerra. O acordo, mediado por Egito, Catar e Estados Unidos, é divido em três fases. A primeira fase prevê a libertação de reféns por parte do Hamas em troca da liberação de prisioneiros palestinos por Israel. A segunda fase está destinada a negociações para um cessar-fogo permanente e a retirada completa das forças israelenses da Faixa de Gaza. A etapa final envolve a devolução dos corpos dos reféns e o início do processo de reconstrução, que deverá ser longo.
Apesar do cessar-fogo, a situação continua instável, com a possibilidade de incidentes que podem ameaçar o acordo. A Faixa de Gaza enfrenta uma devastação significativa, com mais de 40 mil mortes e a destruição de grande parte da infraestrutura. Organizações humanitárias alertam que qualquer deslocamento em massa dos palestinos pode resultar na perda de sua identidade e prejudicar a criação de um Estado Palestino, uma posição previamente defendida pelo governo dos Estados Unidos.