Um degelo temporário nas conturbadas relações entre os Estados Unidos e a Rússia está permitindo que empresas norte-americanas considerem a possibilidade de retornar ao país, três anos após um êxodo significativo. Recentemente, após conversas essenciais com autoridades russas, o Secretário de Estado dos EUA comentou sobre as “extraordinárias oportunidades” que poderiam surgir para os dois países, uma vez que a guerra na Ucrânia terminasse. Na comunicação mais recente, o presidente dos Estados Unidos manifestou sua intenção de buscar acordos de desenvolvimento econômico com Moscou. Contudo, a magnitude do exílio corporativo após a invasão da Ucrânia em 2022 dificulta esse processo, com apenas algumas empresas americanas ainda operando na Rússia.
Desde a invasão da Ucrânia, mais de mil empresas globais decidiram se retirar ou diminuir suas atividades na Rússia, conforme um levantamento da Yale School of Management. Autoridades russas expressaram otimismo quanto ao retorno de algumas firmas dos EUA ainda no segundo trimestre deste ano, segundo declarações de um alto executivo. No entanto, especialistas permanecem céticos, apontando que os potenciais benefícios de reinvestir na Rússia são limitados, considerando os riscos envolvidos. A reputação empresarial e a segurança do ambiente de negócios são preocupações constantes, colocando as empresas americanas em uma posição complicada.
Historicamente, a Rússia tem se mostrado um ambiente difícil para negócios, enfrentando problemas de corrupção e burocracia. A situação piorou desde a invasão, com sanções econômicas impostas pelo Ocidente tornando o ambiente ainda mais adverso. O risco de desapropriação de ativos estrangeiros é um dos principais desafios que as empresas internacionais enfrentam atualmente. Em 2023, a Rússia adotou um decreto que permite ao governo assumir o controle temporário de ativos pertencentes a estrangeiros, resultando na nacionalização de ativos de empresas como a Danone e a Carlsberg.
A corrupção também representa um obstáculo significativo para negócios na Rússia, que se agravou nos últimos anos. Em 2021, a Transparency International posicionou a Rússia em 136º lugar em um ranking de percepção de corrupção, e em 2024 o país caiu para a 154ª posição. Essa deterioração evidencia como a corrupção no setor público se tornou um fator complicador para investidores estrangeiros.
Paralelamente, a economia russa passou a contar com menos integração em relação à economia mundial, em grande parte devido às sanções. Logo após a invasão, importantes entidades financeiras foram banidas do sistema de pagamentos global SWIFT, complicando transações internacionais. Mesmo com possíveis mudanças nas políticas dos Estados Unidos, as sanções adotadas por outros parceiros comerciais da Rússia provavelmente permanecerão em vigor, impactando a viabilidade de negócios no país.
A percepção de que a Rússia não é mais um ambiente favorável para investimentos estrangeiros se tornou comum. Duas décadas atrás, a economia russa estava em ascensão, impulsionada pelas exportações de petróleo e gás natural. Contudo, a situação mudou substancialmente, com os Estados Unidos tornando-se menos dependentes dos recursos naturais russos devido ao aumento da própria produção interna e à concorrência no setor energético.
A realidade atual mostra um mercado em transformação, onde a classe média russa vem encolhendo devido à guerra e suas consequências. A desestabilização da economia afetou a dinâmica do consumo, tornando mais difícil a operação de empresas no país. Com muitos cidadãos partindo ou perdendo suas vidas em decorrência do conflito, a estrutura econômica russa está indo em direção a uma dependência maior do complexo militar-industrial, uma área na qual é improvável uma colaboração com os Estados Unidos.
Retornar à Rússia é visto, por muitos analistas, como uma decisão que não compensaria os riscos envolvidos. A incerteza em relação a futuras mudanças nas relações diplomáticas entre os dois países representa um fator de preocupação significativo, agregando complexidade às decisões de investimento. O cenário político nos Estados Unidos pode mudar, tornando instável qualquer avanço nas relações com a Rússia e desencorajando o retorno de empresas estrangeiras. A perspectiva resume-se a um alto risco e um baixo potencial de lucro.