10 fevereiro 2025
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Os Desafios de Ser Mulher na Ciência: Uma Realidade Inspiradora

A pesquisadora Fabiana Corsi Zuelli fez história ao se tornar a primeira brasileira a receber o prêmio global da Universal Scientific Education and Research Network (USERN). Este prêmio é concedido a cientistas com menos de 40 anos que tenham realizado pesquisas com impactos significativos, tanto no campo científico quanto humanitário. A conquista da pesquisadora, que é natural de Ribeirão Preto, São Paulo, é notável, considerando que ela superou mais de 90 mil indicações. Seu projeto foi escolhido por um comitê formado por mais de 600 cientistas, incluindo ganhadores do Prêmio Nobel.

O foco da pesquisa de Fabiana está na análise de como fatores biológicos e ambientais influenciam o desenvolvimento de transtornos psicóticos. O objetivo é descobrir novas abordagens terapêuticas que possam ajudar pacientes que não respondem aos tratamentos tradicionais. Em uma recente entrevista, a pesquisadora compartilhou suas descobertas, o desenvolvimento da imunopsiquiatria e a relevância da presença feminina na ciência.

No contexto de seus estudos, a interação entre predisposições biológicas e fatores ambientais é avaliada no desenvolvimento de psicoses, que são considerados transtornos mentais graves que podem levar a delírios e alucinações. A prevalência das psicoses é maior no final da adolescência e no início da vida adulta, um período crítico para o desenvolvimento pessoal. As causas desses transtornos são multifatoriais e incluem interações complexas entre genética e ambiente. Pesquisas indicam que traumas na infância, como abuso e negligência, bem como o uso frequente de maconha, podem aumentar significativamente o risco de psicose. O trabalho da pesquisadora investiga a relação entre inflamação e fatores imunológicos ligados à condição, com o intuito de contribuir para o aprimoramento de intervenções terapêuticas.

As descobertas de Fabiana podem impactar o desenvolvimento de novas abordagens de tratamento, considerando que cerca de um terço dos pacientes com psicose não está respondendo adequadamente aos antipsicóticos convencionais, particularmente em relação a sintomas negativos. Um dos estudos em que a pesquisadora participou testou a eficácia de um tratamento combinado que envolve antipsicóticos e um medicamento que modula a resposta imunológica. Essa pesquisa representa um exemplo de medicina de precisão, na qual as características biológicas estão sendo utilizadas para criar terapias mais personalizadas. Além disso, é essencial implementar políticas públicas que aumentem a conscientização sobre fatores de risco que podem ser modificados.

Espera-se que os próximos anos tragam avanços na área de imunopsiquiatria, à medida que a compreensão das interações entre saúde física e mental se aprofunde. Com os recentes avanços científicos, como a identificação de células imunológicas no cérebro, o entendimento da psiquiatria passou a integrar a perspectiva física. As previsões incluem uma abordagem mais refinada da medicina de precisão, com terapias personalizadas baseadas em biomarcadores imunológicos, genéticos e ambientais. Tecnologias emergentes, como imunofenotipagem e inteligência artificial, poderão identificar padrões complexos e otimizar intervenções terapêuticas.

A pesquisa em Ribeirão Preto também resultou na criação de um ambulatório especializado para atender pessoas em seus primeiros episódios psicóticos. Esse serviço oferece suporte clínico gratuito e treinamento para profissionais do SUS. Modelos semelhantes, já implementados em países como Reino Unido e Austrália, poderiam ser expandidos no Brasil para garantir que o know-how científico seja aplicado à prática clínica, beneficiando um número maior de pacientes.

O interesse de Fabiana pela ciência começou na infância, influenciado pela experiência de brincar com materiais de laboratório do pai, que era biomédico. Outra motivação foi a vivência com uma tia que enfrentou a esquizofrenia, observando o sofrimento causado pelo transtorno e o impacto sobre os cuidadores. Desde então, Fabiana deseja desenvolver estratégias que melhorem a qualidade de vida das pessoas afetadas por esse tipo de condição.

Considerando a sua trajetória e o destaque de suas pesquisas tanto nacional quanto internacionalmente, Fabiana aborda os desafios de representatividade feminina na ciência. As mulheres na ciência lidam com desafios diários, enfrentando barreiras sociais e históricas. Muitas ainda precisam equilibrar as demandas da carreira acadêmica com responsabilidades familiares. Embora as mulheres sejam maioria em cursos de pós-graduação, elas ainda ocupam posições de liderança e recebem prêmios científicos em menor número. Essa desigualdade não se deve à falta de competência, mas a barreiras estruturais. Fabiana acredita que, apesar dos desafios, o trabalho e a vontade das mulheres na ciência têm o potencial de superar essas barreiras, inspirando mudanças significativas.

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