A inteligência artificial (IA) está presente no cotidiano, manifestando-se através de assistentes virtuais, reconhecimento facial e dispositivos como smart TVs. Com o avanço dessa tecnologia, emergem discussões sobre as implicações éticas de seu uso, um tema que vem sendo explorado em diversos estudos. Luciano Floridi, filósofo italiano de 61 anos, tem contribuído substancialmente para esse debate. Seu livro, “A ética da inteligência artificial: princípios, desafios e oportunidades”, publicado recentemente pela PUCPRESS, oferece uma análise dos impactos da IA e explora questões éticas essenciais para o futuro.
Floridi relata que sua motivação para estudar a inteligência artificial surge de sua experiência de quase 40 anos no campo da inovação digital. Para ele, a IA é uma parte crucial da revolução digital, e seu objetivo é compreender e gerenciar essa transformação de maneira eficaz.
O filósofo introduziu o conceito de “filosofia da informação” nos anos 1990, um ramo que aborda a importância da informação de forma isolada, assim como a filosofia da linguagem e da mente. Essa nova disciplina foi criada em resposta à necessidade de uma abordagem filosófica para acompanhar o avanço tecnológico, especialmente no que tange à informação.
No livro, Floridi discute as raízes de algumas questões contemporâneas relacionadas à IA, enfatizando a agência dessa tecnologia, sua natureza e os desafios que ela apresenta. A obra propõe uma reflexão sobre como a inteligência artificial pode ser utilizada para beneficiar a humanidade e o meio ambiente.
A redefinição da identidade humana é um dos aspectos abordados por Floridi. A interação com as redes sociais e a utilização de big data já desafiavam percepções pessoais, e a IA intensificou essa mudança, demonstrando habilidades que antes eram vistas como exclusivamente humanas, como dirigir, jogar xadrez e criar obras literárias.
Em relação às responsabilidades, a IA introduz novas dinâmicas que afetam a forma como as pessoas percebem e exercem sua responsabilidade. Com a capacidade da IA de realizar tarefas de maneira mais eficiente que os humanos, surgem questionamentos sobre a atribuição de culpa em casos de falhas, especialmente em ambientes corporativos e educacionais.
Floridi aponta quatro riscos éticos associados ao desenvolvimento da inteligência artificial. Além das questões de responsabilidade e identidade, destaca preocupações socioeconômicas e ambientais. A IA, em mãos inadequadas, pode acentuar desigualdades sociais e até se tornar um instrumento de opressão e violência. Adicionalmente, o consumo elevado de energia pela IA representa um risco ambiental significativo.
A atual estrutura regulatória da IA varia globalmente, com a Europa adotando medidas mais rigorosas. Nos Estados Unidos, a abordagem tem sido menos restritiva. No Brasil, ainda há um caminho a ser percorrido em termos de regulamentação e compreensão do impacto da IA na sociedade.
Floridi reconhece a importância da IA para o bem social, ressaltando que ela possui o potencial para aumentar a consciência individual e promover a responsabilidade adequada. Tecnologias sustentáveis podem ser utilizadas de forma benéfica, com o objetivo de desenvolver práticas que favoreçam a sociedade como um todo, em vez de concentrar o controle em poucas mãos.
A realização desses objetivos depende da vontade política e do engajamento da sociedade. Floridi enfatiza que a responsabilidade pela utilização da IA cabe a todos, não apenas aos governantes, já que a população tem um papel fundamental na escolha de seus representantes e nas diretrizes que guiam a tecnologia.