Líderes europeus realizaram uma reunião de emergência em Paris para discutir o futuro do continente, no momento em que uma delegação diplomática dos Estados Unidos se prepara para se encontrar com representantes da Rússia. Durante o encontro, o presidente francês, Emmanuel Macron, foi visto se comunicando com outros líderes europeus para abordar questões relacionadas à situação na Ucrânia e à segurança na Europa.
A história possui diversos exemplos de armistícios, muitos dos quais resultaram na capitulação total de um dos lados envolvidos. Normalmente, esses processos não apenas exigiram uma rendição formal, mas também implicaram uma humilhação pública para a parte derrotada, que foi forçada a aceitar condições impostas pelo inimigo. No contexto do pós-Segunda Guerra Mundial, os processos de paz ocorreram em diferentes cenários, frequentemente levando à saída dos líderes derrotados para o exílio, o que resultou na mudança automática do governo e na eliminação das facções leais aos líderes anteriores.
Essa dinâmica de vitória ou derrota é mais comum em guerras com resultados claros, mas em situações onde os resultados são mistos, como a Guerra da Ucrânia, as complexidades aumentam consideravelmente. O conflito, que teve início em 2014 e se intensificou com a invasão russa em 2022, vivenciou diversas fases, cada uma com seu próprio possível desfecho. Os líderes russos inicialmente acreditaram que poderiam realizar uma rápida conquista, similar àquela na Geórgia, onde um governo seria destituído e substituído por um alinhado com Moscou, restaurando a ordem rápidamente. No entanto, esse cenário não se concretizou.
Nos primeiros meses do conflito, com o apoio substancial da OTAN e um alto sentimento patriótico, os ucranianos aspiraram à recuperação total de seu território. Contudo, essa expectativa também não se concretizou. Após três anos de intensas hostilidades e um elevado número de baixas, a realidade se mostrou amarga, refletindo uma situação favorável à Rússia que, embora significativa em termos simbólicos, permanece como uma vitória parcial. Atualmente, o exército russo ocupa aproximadamente 21% do território ucraniano reconhecido internacionalmente, tendo consolidado avanços em regiões como Kherson, Zaporizhia e Donetsk, além das províncias de Luhansk e da Crimeia.
Essas regiões são ricas em recursos minerais e terras agrícolas, o que conferiu a Putin uma sensação de ganho neste conflito. No entanto, essa vitória é relativa: ao longo desses anos, a Rússia tornou-se o país mais sancionado do mundo, enfrentou perdas significativas em termos de equipamentos militares e sofreu com a morte de cerca de 200 mil soldados. Atualmente, os resultados da guerra são apresentados de maneira favorável pela Rússia, enquanto uma comitiva desse país se dirige à Arábia Saudita para diálogo com diplomatas americanos.
A nova administração americana, sob a liderança de Donald Trump, sinaliza uma mudança nas relações com a Europa Ocidental. Em discurso recente, o vice-presidente enfatizou que a Rússia não deve ser considerada a principal inimiga da Europa, sugerindo que os desafios enfrentados estão mais associados a questões internas. Essa postura levanta questionamentos, principalmente para os países da Europa Oriental, que têm memórias profundas do imperialismo russo.
Na reunião em Paris, Macron e outros líderes discutiram o futuro da Europa sem contar com o apoio habitual dos aliados transatlânticos. Diversas abordagens para a crise foram apresentadas, destacando a resistência a uma “paz imposta” por líderes autoritários. Apesar de essa ser uma posição moralmente justificável, a política real pode acabar remodelando a Ucrânia de acordo com os interesses dos líderes russos e americanos.
O consenso principal alcançado em Paris focou em como prevenir futuras agressões, ao invés de apenas repudiar violações das leis internacionais. A sugestão da Polônia, que foi acolhida pragmaticamente pelos demais, propõe um aumento significativo nos gastos militares dos países europeus, além de uma modernização contínua de suas forças armadas. A presença do exército americano havia, por muitos anos, permitido que os europeus se sentissem seguros, mas essa situação não é mais viável.
Os países europeus, mesmo sem o apoio dos Estados Unidos, contam com um efetivo militar superior a 1,5 milhão de soldados sob a égide da OTAN, além de possuírem potências nucleares e tecnologias bélicas avançadas. Embora existam defasagens em alguns aspectos, é possível corrigi-las redirecionando investimentos mal alocados para áreas essenciais à segurança e defesa. O futuro da Ucrânia poderá ser moldado por acordos desiguais, enquanto o destino da Europa dependerá da capacidade de seus líderes atuais em garantir um futuro protegido para seus cidadãos.