A série de decretos assinados por Donald Trump logo após assumir a presidência dos Estados Unidos tem intensificado as preocupações de grupos imigrantes. Em uma nova fase de endurecimento, o republicano deu poderes à equipe da ICE, a agência de imigração, para deportar estrangeiros que haviam recebido permissão temporária para permanecer no país durante o governo de Joe Biden.
O nível de apreensão é evidente. No TikTok, um usuário conhecido como @migrantesmillonarios compartilhou vídeos retratando o clima dos últimos dias. Em um dos clipes, ele mostra um restaurante vazio, afirmando em espanhol que os funcionários não foram aos seus postos de trabalho por não estarem com a documentação regularizada. Em outro vídeo, ele exibe canteiros de obras paralisados, resultantes da ausência de trabalhadores com medo de serem demitidos e deportados.
“Não há garçons, ninguém veio trabalhar. É a primeira vez que isso acontece nos Estados Unidos. Essa situação se dá porque as pessoas estão temerosas”, comentou o usuário, identificado como de uma área na Califórnia – um dos estados que faz fronteira com o México. Outro usuário acrescentou: “nós somos a força que movimenta a economia em terras estranhas”.
Em um segundo vídeo, o usuário mostra um edifício onde os faxineiros foram dispensados devido à falta de documentos. Muitos deles, provavelmente, retornarão ao México, que já se prepara para acolher milhares de deportados através de um programa denominado “O México abraça você”. Estão sendo montados centros de acolhimento em cidades na fronteira, com promessas de oferecer assistência básica.
A “deportação em massa” começou logo nos primeiros dias do novo mandato de Trump, com autoridades dos Estados Unidos relatando a prisão de 538 imigrantes classificados como “ilegais criminosos”, além de “centenas” de deportações, como informou uma porta-voz da Casa Branca recentemente.
“A Administração Trump prendeu 538 imigrantes ilegais criminosos e deportou centenas em aviões militares”, publicou a porta-voz nas redes sociais. “Iniciou-se a maior operação de deportação em massa da história”, adicionou.
A ICE confirmou os números de prisões e detecções em uma atualização na rede social. A agência emite ordens de detenção para estrangeiros que foram presos devido a acusações criminais e que estão sob a crença da possibilidade de deportação, visando mantê-los sob custódia. Durante a campanha, Trump havia prometido implementar “a maior deportação da história dos Estados Unidos”, e nos primeiros dias de governo começou a atuar nessa direção – embora a realização da operação enfrente obstáculos legais e financeiros, uma vez que a estimativa é que deportar 1 milhão de imigrantes ao ano, conforme prometido, custaria cerca de 300 bilhões de dólares.
Em seus primeiros atos, Trump declarou emergência nacional na fronteira sul, o que permitiu o redirecionamento de recursos para aumentar a segurança com a presença de tropas militares (1.500 soldados foram enviados na quarta-feira) e o reinício da construção do famoso muro. Ele também desativou um aplicativo criado no governo anterior para gerenciar pedidos de asilo e suspendeu todas as audiências previamente agendadas. Tal como prometeu, ele espalhou o medo entre os cerca de 11 milhões de imigrantes em situação irregular ao permitir operações da ICE em santuários como escolas, igrejas e hospitais.
Em outro decreto, Trump declarou as gangues urbanas como organizações terroristas, equiparando-as a Al-Qaeda e ao Estado Islâmico, e orientou o Departamento de Justiça a buscar a pena de morte para imigrantes ilegais que cometem crimes graves, uma proposta que conta com o apoio de 55% da população. O mesmo departamento instruiu que qualquer funcionário público ou policial que se recusar a cumprir as novas normas de controle sobre imigrantes ilegais deverá ser afastado e processado.
A medida mais audaciosa em termos de imigração é a que revoga a concessão automática de cidadania americana a filhos de estrangeiros em situação irregular ou temporária. O direito à cidadania está garantido pela 14ª Emenda da Constituição, que estabelece que todas as pessoas nascidas nos Estados Unidos são cidadãs. Promotores de 22 estados democratas já iniciaram ações judiciais contra o decreto, e um juiz de Seattle bloqueou temporariamente a medida para que fosse feita uma análise mais aprofundada.