Corais não são frequentemente associados à movimentação — e muito menos a ter pernas. Contudo, cientistas descobriram que um coral solitário da espécie Cycloseris cyclolites consegue “andar” ativamente em direção a fontes de luz azul, de maneira semelhante ao movimento pulsante das águas-vivas, segundo um recente estudo. Enquanto a maioria dos corais é sésseis, fixando-se permanentemente a rochas e substratos, o C. cyclolites, inicialmente ancorado, desenvolve a capacidade de se mover à medida que cresce, resultando na dissolução de seu caule.
Esse coral é comum na região Indo-Pacífica e há sinais de sua presença no Oceano Índico e no Mar Vermelho, conforme informou um dos pesquisadores da investigação. Os ambientes recifais onde o C. cyclolites se desprende são caracterizados por alta energia, com ondas intensas e competição acirrada por espaço. Essas condições adversas forçam os indivíduos pequenos, que podem atingir até 9 centímetros, a se deslocar rapidamente em busca de águas mais calmas e profundas.
Esse movimento aumenta as chances de sobrevivência e reprodução do coral, ao diminuírem a energia das ondas, a temperatura e a competição por recursos como alimento e luz solar. Um estudo, publicado em uma revista científica, aborda esses aspectos.
Investigações anteriores já indicavam que alguns corais solitários podiam se mover em resposta à luz, mas as específicas maneiras como esses organismos navegavam no ambiente ainda não eram claras devido à baixa qualidade das imagens utilizadas nas análises. O novo estudo confirmou que o C. cyclolites se movimenta ativamente por meio de um processo denominado inflação pulsada quando exposto à luz azul, permitindo que eles migrem em direção a fontes luminosas que se assemelham ao seu habitat natural.
O movimento característico do C. cyclolites sugere que esses corais solitários possuem funções corporais mais complexas do que se acreditava anteriormente, comparáveis às das águas-vivas, seus parentes evolutivos. Assim, um grupo de pesquisadores coletou cinco espécimes dessa espécie na costa da Austrália, transportando-os para um aquário na universidade local para realizar testes com diferentes fontes de luz.
Os cientistas conduziram experiências com luz azul e branca, observando como os corais reagiam a cada tipo separadamente e em combinação. O C. cyclolites demonstrou uma forte preferência pela luz azul, com a maioria dos espécimes se movendo em direção a essa fonte. Os movimentos mostraram-se periódicos, com surtos de mobilidade que variavam de 1 a 2 horas. Durante as experiências, alguns corais se deslocaram até 220 milímetros em um intervalo de 24 horas, embora pudessem ter alcançado distâncias maiores se não tivessem colidido com as paredes do tanque.
Por outro lado, apenas uma pequena fração dos corais se moveu em resposta à luz branca, com o mais distante percorrendo apenas 8 milímetros. Quando ambos os tipos de luz foram apresentados ao mesmo tempo, todos os corais se dirigiram em direção à luz azul, ignorando a branca.
O comportamento dos corais foi comparado ao de humanos na praia, onde a luz da costa é clara, enquanto a do oceano profundo é mais escura. Nesse caso, a luz azul desempenha um papel sinalizador para os corais, orientando-os a se dirigirem a ambientes mais seguros e tranquilos.
De acordo com biólogos marinhos, essas descobertas sobre a resposta do C. cyclolites à luz podem ampliar o conhecimento sobre o comportamento fotossensível em outros organismos marinhos e podem inspirar novas pesquisas sobre como esses seres detectam e reagem à luz.
Com imagens de alta resolução, os pesquisadores documentaram a biomecânica do C. cyclolites. Eles identificaram que o deslocamento passivo (que depende das ondas e da gravidade) é a primeira forma de migração após a aquisição de mobilidade. O movimento passivo depende da força das ondas, que pode deslocar os corais de maneira indesejável, enquanto a gravidade geralmente os guia de volta para águas mais profundas.
Quando as ondas e a inclinação do recife se combinam, os corais podem ser levados lentamente para áreas externas do recife, que tendem a ter fundos mais calmos. Nesse ponto, o C. cyclolites pode utilizar seu movimento ativo para se deslocar ainda mais fundo, em busca de comunidades de corais similares.
Os cientistas descobriram que a movimentação ativa do C. cyclolites em direção à luz azul é influenciada por três mecanismos principais: a inflação dos tecidos, a expansão das almofadas na parte inferior e a torção e contração dos tecidos externos. Esses fatores colaboram para o processo de inflação pulsada, no qual os tecidos do coral se expandem e contraem rapidamente como método de sobrevivência.
A locomoção passiva, embora rápida, apresenta riscos, pois os organismos podem acabar em locais desfavoráveis, sem controle sobre onde pousam. Em contrapartida, a locomoção ativa permite um controle maior sobre a movimentação, aumentando as chances de alcançar um ambiente adequado.
Assim como as águas-vivas, que também utilizam a inflação pulsada para nadar, o C. cyclolites executa um movimento de “caminhada” ao se deslocar sobre superfícies. Embora as águas-vivas tenham sido extensivamente estudadas, a pesquisa sugere que os corais como o C. cyclolites podem ter um sistema nervoso semelhante, em razão da complexidade de seus movimentos.
Essa pesquisa pode oferecer insights sobre padrões de movimentação em outros corais e auxiliar no desenvolvimento de estratégias de conservação eficazes. Compreender a resposta à luz e seu papel na ecologia destes seres é essencial para promover iniciativas de restauração de corais em áreas afetadas pela perda de habitat.