Um novo estudo revela que, apesar de o oceano profundo cobrir 66% da superfície da Terra, apenas 0,001% de seu assoalho foi registrado por câmeras desde o início das explorações científicas em 1958. Essa extensão corresponde a aproximadamente 3.823 quilômetros quadrados, uma área ligeiramente maior que o estado americano de Rhode Island e cerca de um décimo do território da Bélgica. A estimativa foi realizada por pesquisadores da Ocean Discovery League, da Scripps Institution of Oceanography e da Universidade de Boston, com base em mais de 43 mil registros públicos de submersões abaixo de 200 metros. Este levantamento, considerado o mais abrangente nessa área, foi publicado recentemente na revista científica Science Advances.
A importância dessa pesquisa reside no fato de que o fundo do mar profundo abriga o maior e mais inexplorado ecossistema do planeta. Esse ambiente realiza processos vitais para o equilíbrio do planeta, como a regulação do clima, o armazenamento de carbono e a produção de até 80% do oxigênio que consumimos, graças ao fitoplâncton que se desenvolve nas águas profundas. Além disso, o oceano profundo é uma fonte promissora para a ciência biomédica, uma vez que várias substâncias utilizadas no tratamento do câncer, HIV e Covid-19 foram isoladas de organismos marinhos encontrados nessas regiões.
Entretanto, a distribuição das observações é extremamente desigual. O estudo indica que 97% dos mergulhos profundos foram realizados exclusivamente por cinco países: Estados Unidos, Japão, Nova Zelândia, França e Alemanha. Aproximadamente 70% das expedições ocorreram nas zonas econômicas exclusivas de apenas três desses países, resultando em descobertas que refletem uma amostra geográfica e ecológica limitada.
Essa lacuna de dados tem um impacto significativo, pois a ciência vem tentando descrever e entender uma porção colossal do planeta com base em uma amostra bastante enviesada. Para ilustrar, essa situação é similar a tentar compreender todos os biomas da Terra a partir de observações feitas em uma única cidade, o que pode levar a uma visão distorcida sobre biodiversidade, processos geológicos e potenciais riscos ambientais.
Além disso, o estudo aponta uma redução nas missões em grandes profundidades. Na década de 1960, mais da metade dos mergulhos ultrapassava 2 mil metros, enquanto atualmente apenas um quarto atinge essa profundidade. Essa diminuição é preocupante, dado que três quartos do oceano situam-se entre 2 mil e 6 mil metros de profundidade. Os autores da pesquisa advertiram que, mesmo que o número de veículos submersíveis aumentasse consideravelmente, levaríamos mais de 100 mil anos para cobrir visualmente todo o fundo do mar. Em vista desse cenário, os pesquisadores enfatizam a necessidade de um novo modelo de exploração que seja mais acessível, colaborativo e estratégico, capaz de preencher as lacunas existentes e guiar as decisões sobre a conservação e o uso sustentável dos recursos marinhos.