O escândalo de fraudes no INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) resultou na demissão do ministro da Previdência, Carlos Lupi, na sexta-feira (2). Apesar disso, a oposição intensifica a pressão sobre o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao planejar uma CPMI (Comissão Parlamentar Mista de Inquérito) para investigar os descontos indevidos sobre aposentadorias. A saída de Lupi representa a 11ª mudança ministerial durante o terceiro mandato de Lula. A decisão ocorreu após investigações da Polícia Federal (PF) e da Controladoria-Geral da União (CGU), que revelaram fraudes totalizando R$ 6,3 bilhões no INSS, autarquia vinculada ao Ministério da Previdência.
A troca no ministério não diminui a determinação da oposição. Parlamentares afirmam que já reuniram assinaturas suficientes para estabelecer a CPMI, que incluirá representantes tanto da Câmara quanto do Senado. A comissão é vista como uma solução para contornar a várzea de CPIs na Câmara, dependendo apenas da leitura do requerimento de instalação, que deve ser realizada pelo presidente do Senado, Davi Alcolumbre, em sessão conjunta do Congresso. De acordo com declaração do líder da oposição no Senado, Rogério Marinho, há uma mobilização para garantir que não haja sessão congressual sem a instalação da CPMI.
Após a demissão de Lupi, o presidente Lula fez oficialmente o convite a Wolney Queiroz, secretário-executivo da Previdência e então secretário adjunto, para assumir a pasta. Horas depois, ele foi empossado em cerimônia ao lado de Lula. A escolha de Wolney, ex-deputado federal por Pernambuco e membro do PDT, visa manter o apoio do partido ao governo e responder à crise atual. O governo aposta na habilidade de articulação de Wolney no Congresso para tentar limitar o avanço da CPMI e minimizar danos à imagem do presidente.
Uma pesquisa recente indicou que 85% dos entrevistados apoiavam a saída de Lupi. A pesquisa foi realizada antes da demissão do ministro, demonstrando o grau de insatisfação popular e seu impacto potencial nas próximas eleições. Diante dessa percepção, o governo se viu obrigado a agir rapidamente para substituir Lupi. Além de atuar na articulação política, Wolney terá a responsabilidade de trabalhar junto ao novo presidente do INSS, Gilberto Waller Jr., e à Advocacia-Geral da União (AGU) para facilitarem o ressarcimento das vítimas das fraudes, visto como um passo essencial para mitigar a crise.
Wolney esteve presente em uma reunião do Conselho Nacional do INSS, onde a conselheira Tonia Galleti levantou preocupações sobre os descontos indevidos em pagamentos de aposentados e pensionistas, em um encontro datado de 12 de junho de 2023. Na ocasião, Wolney sugeriu que fosse acionado o responsável pela certificação dos dados do INSS, do Dataprev.
Internamente, a escolha de Wolney ajudou a acalmar tensões no PDT. A saída de Lupi gerou especulações sobre uma possível ruptura do partido com o governo, especialmente na ala mais próxima do ex-ministro Ciro Gomes, que se distanciou de Lula. O acordo que levou Lupi a pedir demissão, ao invés de ser exonerado, foi considerado estratégico para preservar a aliança entre o PDT e o governo. Aliados de Ciro enxergavam a crise como uma chance para reposicionar o pedetista como uma alternativa presidencial em 2026. A permanência do PDT no governo, com um novo ministro de confiança à frente da Previdência, foi interpretada como uma medida para evitar esse movimento.
Esse não é o primeiro episódio de saída de Carlos Lupi sob suspeitas. Em 2011, durante o governo de Dilma Rousseff, ele pediu demissão do Ministério do Trabalho após denúncias de corrupção, que incluíam cobrança de propina por parte de assessores e uso irregular de aeronaves. Na ocasião, Lupi chegou a afirmar que duvidava que fosse demitido pela presidente. Dias depois, apresentou suas desculpas publicamente e pediu demissão.
Nesta nova crise, Lupi procurou se distanciar das acusações, agradecendo ao presidente Lula em redes sociais e enfatizando que seu nome não surgiu nas investigações. Ele expressou sua expectativa de que as apurações identificassem os responsáveis e aplicassem punições rigorosas a quem abusasse de sua posição para lesar trabalhadores.
Para o governo, a permanência de Lupi prejudicava a narrativa de combate a fraudes e afetava a imagem de Lula durante a crise. A eleição de um novo ministro é vista como uma tentativa de reverter a situação, mas a oposição assegura que intensificará a pressão através da CPMI. Face ao desgaste político e ao impacto negativo das fraudes, que afetaram milhões de aposentados e pensionistas, o governo busca responder rapidamente com ações administrativas e articulação no Congresso. A pressão contra o governo Lula deve persistir nos próximos meses, especialmente com a CPMI em vias de ser formada.