11 fevereiro 2025
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PSB Sob Nova Liderança: O Que Esperar com João Campos no Comando?

Nas últimas décadas, o Partido Socialista Brasileiro (PSB) teve duas oportunidades significativas de conquistar a Presidência da República. A primeira ocorreu com o então governador de Pernambuco, Eduardo Campos, que em 2014 era considerado o principal adversário de Dilma Rousseff na disputa pela reeleição. Contudo, Campos faleceu em um acidente aéreo a dois meses das eleições. Em 2018, o partido apostou na popularidade de Joaquim Barbosa, ex-ministro do Supremo Tribunal Federal e relator do processo do mensalão, que resultou em condenações por corrupção. Embora Barbosa tivesse um bom desempenho nas pesquisas de intenção de voto preliminares, ele decidiu não se candidatar, o que se atribui a desavenças com lideranças do PSB a respeito do programa de governo. Enquanto Barbosa favorecia a privatização de setores não estratégicos, o PSB defendia uma “gradual e progressiva socialização dos meios de produção”.

Atualmente, após quase oitenta anos de sua fundação, o PSB se encontra em uma nova fase, cogitando uma mudança significativa. Em maio, o partido deverá eleger uma nova diretoria e, se tudo ocorrer conforme o previsto, será liderado por João Campos, prefeito de Recife e filho de Eduardo Campos. Aos 31 anos, ele é visto como uma nova promessa política, com planos ambiciosos para o futuro. O prefeito foi reeleito em 2024 e poderá concorrer ao governo de Pernambuco em 2026. Caso as circunstâncias sejam favoráveis, o PSB pretende lançar sua candidatura à presidência em 2030. Para que isso se concretize, uma facção do partido sugere uma revisão de seu programa, propondo a eliminação de barreiras que estariam afastando novos filiados e dificultando o fortalecimento de lideranças em diferentes estados. A proposta inclui trocar o nome do partido, afastando o conceito de socialismo e sugerindo que o “S” passe a representar “sociedade”, transformando o PSB no Partido da Sociedade Brasileira.

Embora a proposta ainda não tenha sido oficializada, o deputado estadual Caio França, principal apoiador da mudança, pretende apresentar as novas diretrizes para o partido na semana seguinte. Além da mudança de nome e da eliminação da ideologia socialista, essa vertente mais jovem do PSB também busca alterar a identidade visual do partido, abandonando a cor vermelha, simbolicamente ligada a partidos de esquerda. O deputado Jonas Donizette, entusiasta da proposta, a credita ao desejo de ampliar a penetração do PSB entre o eleitorado de centro. Ele argumenta que a preservação das bandeiras históricas, embora importante, tem gerado prejuízos eleitorais ao partido, servindo como arma para ataques da direita.

Lideranças do PSB já tentaram, no passado, suavizar a ideologia do partido. Em 2020, em meio a uma articulação com o PT para derrotar Jair Bolsonaro, a legenda começou a adotar uma postura institucional que respeitava diversas formas de propriedade e meios de produção. Apesar disso, o programa oficial do PSB ainda menciona a palavra “socialismo” 54 vezes, e a proposta atual visa eliminar essa referência completamente.

Os defensores dessa nova abordagem acreditam que, com a reformulação pretendida, o PSB poderia finalmente alcançar um espaço mais significativo na política, posicionando-se como uma referência moderna de esquerda ou mesmo como um partido de centro-esquerda. Desde a redemocratização, o PSB participou de duas campanhas presidenciais, sem conseguir avançar para o segundo turno. Em 2002, quando Lula foi eleito, Anthony Garotinho ficou em terceiro lugar. Em 2014, Marina Silva, após assumir a candidatura de Eduardo Campos, chegou a ter chances contra Dilma Rousseff, mas foi prejudicada por uma campanha de desinformação.

Esta nova estratégia gerou divisões dentro da direção do PSB. Alguns membros argumentam que a renúncia das raízes socialistas seria um erro, enquanto outros defendem a priorização do pragmatismo. O deputado Donizette observa que, em certos locais, como São Paulo, a ideologia atual tem dificultado a conquista de votos, ressaltando que algumas críticas ligam os ideais do PSB a situações vividas em países como Venezuela e Cuba, o que não corresponde à realidade do partido. Ele também menciona um interesse particular da bancada paulista nas mudanças propostas, visando a possível candidatura de Geraldo Alckmin ao governo de São Paulo em 2026, quando o estado apresenta o maior colégio eleitoral do país e historicamente resiste a candidatos da esquerda.

A ideia de modernização enfrentará resistência interna. O atual presidente do PSB, Carlos Siqueira, expressou sua desaprovação, afirmando que não vê validade na proposta, que pode não ser bem-sucedida. Assessores de Alckmin também têm reservas quanto à proposta de mudança. Rodrigo Rollemberg, atual secretário do Ministério do Desenvolvimento, acredita que as mudanças devem direcionar-se para uma renovação nas políticas públicas em vez de uma alteração no nome ou na identidade visual do partido. O deputado Pedro Campos, que lidera o PSB na Câmara, indicou que o tema não está em discussão e reforçou a ideia de que a essência do partido reside nas suas ideologias e ações, não em sua aparência ou nomenclatura.

Ao longo das últimas décadas, o PSB teve uma trajetória política vacilante, alternando entre apoio ao governo Lula, a votação pelo impeachment de Dilma Rousseff e a participação no governo Michel Temer. Para a ala mais jovem, é um momento propício para reavaliar as direções do partido, substituindo o conceito de socialismo pela noção de sociedade. A efetivação desse plano ainda requer consenso interno.

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