O livro intitulado “Oito Dias em Yalta”, da historiadora Diana Preston, apresenta uma análise detalhada da Conferência de Yalta, a qual foi crucial para a reconfiguração das influências globais no pós-Segunda Guerra Mundial, destacando a falta de protagonismo europeu nesse processo.
Há 80 anos, líderes dos Estados Unidos e da Rússia se reuniram na Crimeia para discutir o futuro geopolítico. Este local, que em 2014 se tornou um ponto de tensão entre russos e ucranianos, foi o cenário da famosa conferência que contou com a presença de Franklin Roosevelt, Josef Stálin e Winston Churchill. O encontro teve a missão de estabelecer novos arranjos de poder que viriam a perdurar por várias décadas.
Os três dirigentes chegaram à Crimeia no início de fevereiro de 1945, confiantes em relação à vitória na Segunda Guerra Mundial, que representou o mais potente e devastador conflito militar da história. Entretanto, o ambiente ainda era marcado por desconfianças mútiplas sobre as aspirações de cada um em buscar uma hegemonia política e econômica.
A recepção ficou a cargo de Stálin, que cedeu os luxuosos palácios de Livadia, Vorontsov e Yusupov para acolher as respectivas delegações. Os americanos foram hospedados em Livadia, um palácio de grande importância histórica, que passou por reformas significativas no início do século XX. Durante a guerra, o local foi temporariamente ocupado pelos nazistas e, posteriormente, serviu como spa para membros da NKVD, a polícia secreta da União Soviética.
Os britânicos, por sua vez, se alojaram no palácio Vorontsov, em homenagem ao príncipe Mikhail Vorontsov, um proeminente líder militar da campanha contra Napoleão Bonaparte. Assim como os americanos, os britânicos realizaram uma minuciosa verificação de segurança ao chegarem, preocupados com a presença de dispositivos de escuta soviéticos.
As negociações se desenrolaram em oito sessões, abordando temas significativos que incluíam a posição da França no pós-guerra, a divisão da Alemanha, a participação da União Soviética na luta contra o Japão e o futuro governamental da Polônia. Esses tópicos geraram intensos debates e divergências entre os três líderes.
Momentos de ciúmes e tensões também foram observados, especialmente por parte de Churchill, que se sentiu excluído da aproximação entre Roosevelt e Stálin. Em um encontro em 11 de fevereiro, Roosevelt revelou a Churchill que havia alinhavado um acordo com Stálin para a participação soviética na guerra contra o Japão, o que deixou Churchill visivelmente insatisfeito e indicou a diminuição do prestígio europeu na nova ordem mundial.
Os acordos resultantes da Conferência de Yalta foram oficialmente anunciados em 12 de fevereiro, simultaneamente em Moscou, Londres e Washington. Algumas semanas após a conferência, Roosevelt faleceu, e Churchill, logo depois, sofreu uma derrota eleitoral significativa.
Atualmente, assim como acontece há 80 anos, Estados Unidos e Rússia buscam se posicionar como protagonistas em negociações que visam soluções para a situação da Ucrânia, que, embora tenha sido o centro das discussões no passado, agora ocupa um papel secundário no cenário geopolítico contemporâneo, mas ainda assim relevante.
