NOVA YORK — Em dezembro do ano passado, estudantes da oitava série em Nova York enfrentaram o tradicional processo de candidatura para as high schools, que vão do nono ao 12º ano. Muitas dessas instituições exigem redações, submetidas por meio da plataforma digital do Departamento de Educação local, prática que se intensificou após a pandemia. Contudo, a Bard High School Early College, uma das instituições mais concorridas da cidade, decidiu retomar a exigência de redações escritas de forma presencial. Essa escolha foi motivada pelo aumento significativo de textos gerados por inteligência artificial (IA).
De acordo com especialistas, a questão do plágio sempre esteve presente na educação, mas o uso de IA trouxe novas complexidades ao debate sobre a importância da escrita. A alfabetização é frequentemente focada na leitura, enquanto muitos educadores argumentam que a escrita, especialmente a criativa e crítica, é igualmente fundamental para o desenvolvimento acadêmico. A prática de escrever pode melhorar a leitura, criando um ciclo de retroalimentação que beneficia ambos os processos.
A habilidade de escrever é essencial, independentemente da área profissional escolhida. Isso se aplica até mesmo a carreiras de exatas, onde a capacidade de se expressar claramente é vital para a formação de indivíduos autônomos que conseguem articular suas histórias e ideias de maneira eficaz. Especialistas alertam que um sistema educacional que privilegia apenas a leitura pode resultar em um enfoque limitado e apresentar riscos ao desenvolvimento integral dos alunos.
O crescimento do uso de ferramentas de IA, no entanto, pode comprometer os objetivos educacionais dos estudantes. Estudos revelam que uma parte significativa dos alunos não foi adequadamente treinada para lidar com essa nova tecnologia. Além disso, há uma percepção equivocada sobre a dificuldade de reconhecer textos gerados por IA. Um caso recente ilustra essa situação, onde uma redação atribuída a um aluno foi identificada como gerada por IA, revelando um descompasso na compreensão do uso dessas ferramentas entre os jovens.
Uma pesquisa realizada pela Universidade Harvard, em colaboração com o Common Sense Media e o Hopelab, entrevistou adolescentes e jovens adultos, revelando que aproximadamente 50% já utilizaram tecnologia em suas atividades acadêmicas, embora apenas 4% sejam usuários regulares. A maioria dos entrevistados utiliza a IA para informações e brainstorming, e muitos admitem ter recorrido a essas ferramentas para completar tarefas escolares.
Embora a integridade acadêmica continue a ser uma preocupação, alguns participantes do estudo destacaram as contribuições positivas da IA, considerando-a uma “abordagem moderna para o aprendizado”. Em instituições de ensino como a Bronx Science, medidas foram adotadas para penalizar o uso indevido da IA, mas também surgiram confusões, como a nota reduzida de um aluno que foi acusado de plágio sem ter utilizado a tecnologia.
A utilização de IA em atividades específicas, sob supervisão, já ocorre em algumas escolas. No Brasil, a adoção de ferramentas de IA se amplia, com instituições de ensino público também fazendo uso delas. Enquanto a tecnologia oferece oportunidades, especialistas indicam que há preocupações significativas, principalmente com o uso inadequado.
Identificar textos gerados por IA é uma preocupação crescente, tanto em ambientes acadêmicos quanto corporativos. Textos produzidos por essas tecnologias normalmente apresentam características distintas, como impessoalidade e estrutura previsível, e são facilmente identificáveis por aquele familiarizado com a escrita humana. A sofisticação da IA aumenta continuamente, acompanhada de melhorias nas ferramentas destinadas à detecção de sua utilização.
Recentemente, um professor de história descreveu um incidente em sala de aula em que um aluno produziu um texto que exibia um nível de detalhe que não era compatível com o que havia sido discutido nas aulas, levantando suspeitas sobre a origem do conteúdo. Essa experiência ilustra a importância de se manter um diálogo sobre as sutilezas da escrita, que podem ser obscurecidas pelo uso excessivo de tecnologias automatizadas.
À medida que as tecnologias de produção de textos avançam, as ferramentas de detecção também se desenvolvem rapidamente. O mercado global para essas soluções está projetado para crescer substancialmente nos próximos anos, refletindo a necessidade de abordar os desafios impostos pela inteligência artificial na escrita.