O presidente Lula aguardou por vários meses a renúncia do deputado federal maranhense Juscelino Filho, que ocupava o cargo de ministro das Comunicações. A saída do deputado do governo ocorreu há duas semanas, após ser denunciado ao Supremo Tribunal Federal por corrupção, em mais um caso relacionado ao desvio de recursos públicos por meio da manipulação de emendas parlamentares.
A decisão de Lula de permitir que o partido do ex-ministro escolhesse o sucessor se deve em parte ao fato de que o União Brasil detém 7 cadeiras no Senado e 59 na Câmara dos Deputados, o que representa cerca de 80% da bancada do Partido dos Trabalhadores.
Recentemente, Lula recebeu Pedro Lucas, atual líder do União Brasil na Câmara, e anunciou a indicação de Lucas para o Ministério das Comunicações. No entanto, nesta terça-feira (22/4), o deputado divulgou uma nota expressando “sinceras desculpas ao presidente Lula por não atender a esse convite”.
Esse episódio revela a fragilidade da base governista no Congresso, uma vez que o presidente extendia o convite, o governo confirmava a escolha e o deputado recusava publicamente a oferta. Essa situação poderia ter sido evitada se Lula tivesse consultado o ex-presidente José Sarney, que, por sua experiência, poderia ter compartilhado uma história pertinente sobre um episódio ocorrido em Brasília há 40 anos, quando Tancredo Neves estava montando sua equipe de governo.
Naquela época, havia grande pressão em torno da escolha para o Ministério do Interior. Um grupo do Nordeste, liderado por pernambucanos, buscava indicar o ministro, mas enfrentava resistência de Ulysses Guimarães e de grande parte do grupo autêntico do PMDB. Quando a situação ficou conflituosa e Ulysses apresentou a Tancredo o nível de divergência, Tancredo respondeu: “Ulysses, enquanto vocês discutem, eu coloco o Ronaldo Costa Couto lá… até vocês se entenderem.” Após o falecimento de Tancredo, Sarney assumiu o governo e Ronaldo Costa Couto permaneceu no Ministério do Interior por dois anos, antes de se tornar chefe da Casa Civil, cargo que ocupou simultaneamente ao de ministro do Trabalho. Sarney narra esse episódio em seu livro “Galope à beira-mar: Casos e acasos da política e outras histórias”.