A volta às aulas em 2025 traz uma novidade importante: pela primeira vez, a legislação proíbe o uso de celulares por estudantes. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionou essa medida, que se aplica a escolas públicas e privadas, em 13 de janeiro. Uma pesquisa com alunos de distintas redes de ensino foi realizada para compreender suas expectativas em relação a essa mudança.
Rafaela, de 16 anos, aluna de uma Etec na Grande São Paulo, expressou suas preocupações sobre a dificuldade em ficar sem o celular enquanto estiver na escola. “Usava [o celular] quando meu professor permitia, para ajudar em alguma atividade, e, nas aulas vagas, eu passava tempo no TikTok, Instagram, entre outros”, compartilhou. Ela acrescentou que também verificava o celular durante os intervalos, uma prática que agora não será mais permitida. “Se já proíbem durante as aulas, que são o mais importante, não faz sentido limitar também no intervalo, que é o momento em que podemos relaxar após tanto tempo sentado”, comentou.
Enquanto isso, a experiência de Larissa, 16, e Victoria, 18, do PB Colégio e Curso no Rio de Janeiro, difere bastante. Elas se habituram a estar sem o celular, pois o aparelho é entregue aos professores no início do dia e só recuperado ao final das aulas. “No começo foi complicado, mas rapidamente me adaptei”, disse Larissa. Essa aluna também notou que a comunicação entre os alunos melhorou, assim como a concentração.
Por outro lado, Andreza, 16, e Pérola, 17, da Escola Sesc de Ensino Médio, uma escola pública no Rio de Janeiro, adotam uma visão mais equilibrada. Ambas reconhecem que a tecnologia pode enriquecer o aprendizado, desde que utilizada corretamente. “Sites de exercícios tornam as aulas mais dinâmicas. A tecnologia é útil na hora de apresentar seminários, fazer slides”, refletiu Pérola. No entanto, elas são críticas em relação à proibição do uso de celulares nos intervalos. “Por que não poderíamos usar [o celular] na escola, por exemplo, para tirar uma foto?”, questionou Andreza. Na escola delas, os alunos recebem tablets para atividades pedagógicas e os celulares são permitidos fora das aulas. “É preciso promover a conscientização, em vez de simplesmente proibir. Quando a tecnologia é mal utilizada, quem sai perdendo é o aluno”, concluiu Andreza.
É importante mencionar que a nova legislação permite o uso de dispositivos eletrônicos em sala de aula para fins educativos, desde que sob a supervisão dos professores. Por exemplo, aulas de programação podem exigir o uso de computadores. Para essas situações, os alunos podem utilizar seus aparelhos.
O presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), Heleno Araújo, comentou que, de modo geral, os professores apoiam a proibição dos celulares nas salas de aula, mas apresentam desafios para a implementação da medida. “Onde será guardado esse equipamento? Em que momento da aula será necessário o celular para facilitar o entendimento do aluno? Quando será guardado novamente?”, questionou. “As escolas públicas estão equipadas para isso? Existe segurança para guardar os equipamentos dos alunos sem que eles estraguem ou se percam? Há a possibilidade de um planejamento adequado que identifique quando o equipamento pode ser utilizado para melhorar a aprendizagem e quando não deve ser usado?”, acrescentou Araújo em entrevista.
Segundo ele, discussões mais profundas nas redes de ensino são necessárias. “Tudo isso precisa ser mais debatido. Uma lei imposta sem fortalecer a gestão democrática na escola e sem a participação da comunidade escolar pode causar mais problemas do que soluções, dificultando a aplicação da norma como pretende”, argumentou. O principal motivo para a nova lei é proteger crianças e adolescentes dos efeitos prejudiciais das telas em sua saúde mental, física e emocional. Essa iniciativa não é exclusiva do Brasil, já que países como França, Espanha, Grécia, Dinamarca, Itália e Holanda possuem legislações que limitam o uso de celulares nas escolas.