No Amazonas, uma estimativa indica que mais de cinco mil ribeirinhos enfrentam situações de risco decorrentes da erosão e do acúmulo de sedimentos nos rios Amazonas e Japurá, na área da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, localizada a aproximadamente 600 quilômetros de Manaus. Essas conclusões são parte de um estudo recentemente publicado pelo Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá.
A investigação, veiculada na revista científica Communications Earth & Environment, destaca que 80% das comunidades presentes na Reserva de Mamirauá estão situadas às margens dos rios e são afetadas pelas mudanças no solo. O fenômeno da erosão representa uma ameaça para edificações e áreas adjacentes aos rios, uma vez que a remoção de sedimentos das margens ocorre em função das flutuações no nível da água ao longo do ano, fenómeno que é também referenciado como “terra caída”.
Paralelamente, o acúmulo de sedimentos no leito dos rios pode levar à formação de praias e à modificação de seu curso natural. Esses novos obstáculos impactam negativamente a mobilidade e o acesso a serviços e alimentos nas regiões afetadas. Durante períodos prolongados de seca, como os que atingiram a Amazônia entre 2023 e 2024, esses efeitos se tornam ainda mais pronunciados.
Segundo o pesquisador André Zumak, do Instituto Mamirauá, a seca enfrentada em 2024 permitiu a exposição de certas áreas, resultando em fenômenos como as terras caídas, que, em alguns casos, causaram perdas de vidas. Ele destaca que a relação entre esses eventos e as mudanças climáticas é clara.
O mapeamento realizado por meio de imagens de satélite entre 1986 e 2021 revelou que 254 comunidades na Reserva Mamirauá estão em situação de vulnerabilidade em relação à ocorrência de terras caídas e formação de praias. O fenômeno da sedimentação foi identificado em 18,5% das comunidades analisadas, resultando em impactos no transporte fluvial. Além disso, 26% das comunidades enfrentam erosão nas margens dos rios, o que implica a perda de áreas territoriais. Apenas 55,5% das comunidades estão em condições estáveis.
As informações obtidas a partir dessa pesquisa, incluindo a metodologia aplicada, possuem potencial de replicação em outras localidades e podem ser utilizadas pelo Serviço Geológico Brasileiro (SGB) e pelas Defesas Civis municipais. Isso é importante para a identificação de áreas de risco nas comunidades ribeirinhas da Amazônia. O estudo foi desenvolvido em colaboração com instituições de ensino, incluindo a Universidade de Brasília (UnB), a Universidade do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa) e a Universidade de Toulouse, na França.