26 abril 2025
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Rochas Revelam a História da Bacia de Santos: Um Olhar sobre o Passado

Muito antes do surgimento do oceano Atlântico, as terras que hoje compõem a América do Sul e a África estavam unidas, formando um supercontinente conhecido como Gondwana. Um estudo conduzido por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) em colaboração com Yale e Caltech revelou que rochas da Bacia de Santos, localizada no litoral brasileiro, e da região da Namíbia, no sudoeste africano, contêm evidências de um significativo aquecimento geológico ocorrido há aproximadamente 490 milhões de anos. Essas evidências indicam que essas massas de terra estavam conectadas durante este período.

O vestígio desse aquecimento geológico está presente em grãos minerais microscópicos nas rochas, que atuam como bússolas fossilizadas. Algumas dessas rochas contêm minerais magnéticos, como os óxidos de ferro, que são capazes de armazenar uma magnetização. Quando esses minerais se formam, eles capturam informações magnéticas que refletem o campo magnético da Terra da época. Essa informação foi detalhada por um pesquisador do Departamento de Geofísica do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da USP, que é um dos autores do estudo publicado na Journal of Geophysical Research: Solid Earth.

As rochas analisadas pertencem ao Grupo Nama, na Namíbia, e se formaram há mais de 500 milhões de anos. Com o passar do tempo, essas formações geológicas foram comprimidas devido a colisões entre grandes blocos de terra, semelhantes aos continentes modernos se choqueando para formar montanhas. Esse processo geológico provocou calor suficiente para eliminar o registro magnético original das rochas, substituindo-o por um novo sinal, correspondente ao aquecimento ocorrido entre 490 e 480 milhões de anos atrás.

Os correlações geológicas indicam que o aquecimento e o resfriamento ocorreram de maneira sincronizada em diferentes partes do Gondwana Ocidental. Portanto, enquanto esses continentes ainda estavam unidos, fenômenos geológicos idênticos ocorreram em ambos os lados do que hoje se conhece como Atlântico Sul, tanto na África quanto na América do Sul. A pesquisa evidencia que, antes da separação, essas regiões compartilharam eventos geológicos similares.

A descoberta altera concepções anteriores dentro da comunidade científica. Anteriormente, muitos pesquisadores acreditavam que o magnetismo encontrado nessas rochas era resultado de reações químicas locais, onde os minerais magnéticos se reorganizavam devido à presença de fluidos ou mudanças internas. O novo estudo, no entanto, confirma que o calor gerado pelas colisões entre placas tectônicas foi o fator determinante na alteração das rochas.

A idade registrada de 490 milhões de anos marca o fim da formação dos blocos continentais que constituíram o supercontinente Gondwana. A compreensão dessa sequência é fundamental para modelar as condições da Terra na era em que a vida animal complexa começou a surgir. O entendimento desse sinal magnético como consequência de eventos tectônicos globais representa um avanço significativo na interpretação de dados geológicos.

Além de auxiliar na reconstrução da história dos continentes, a metodologia aplicada na pesquisa pode ter implicações práticas futuras. A utilização de técnicas magnéticas pode beneficiar a indústria do petróleo, permitindo determinar a temperatura que certas rochas alcançaram e, assim, identificar seu potencial para a geração de petróleo.

Os pesquisadores continuam suas análises para determinar a duração do aquecimento das rochas e a velocidade do resfriamento, o que poderá enriquecer modelos sobre ambientes antigos do planeta. A consolidação dessa metodologia pode possibilitar sua aplicação em outros sistemas montanhosos ao redor do mundo, oferecendo maior precisão para reconstruções geológicas.

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