13 abril 2025
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Salvando Animais: Empresa Busca Reabilitar Espécies em Risco

Uma cena impressionante poderia ser extraída de um roteiro cinematográfico. O escritor norte-americano George R.R. Martin, conhecido por sua obra “Game of Thrones”, expressou seu entusiasmo, incluindo lágrimas, ao tomar conhecimento da criação de filhotes de lobo-terrível pela startup de genética Colossal Biosciences. Ele destacou este feito ao CEO da empresa, Ben Lamm, afirmando: “Escrevo sobre mágica, mas vocês criaram mágica”. Na narrativa de Martin, esses canídeos ancestrais desempenham um papel fundamental dentro da família Stark, que governa o Reino do Norte. Esse anúncio não só marca um avanço científico significativo, mas também gera algumas incertezas.

A Colossal Biosciences anunciou que conseguiu trazer de volta à vida uma espécie que foi extinta há cerca de 10.000 anos. De acordo com Beth Shapiro, diretora científica da empresa, o processo consiste em “desextinção”. Embora o feito possa parecer espetacular, a ciência por trás dele envolve complexidades que merecem ser explicadas. Uma equipe de 130 cientistas sequenciou o genoma do lobo-terrível utilizando dois fósseis, que consistiam em um conjunto de dentes e um crânio. Em seguida, modificações foram realizadas no DNA do lobo-cinzento, uma espécie que sobreviveu à Era do Gelo, por meio de tecnologias de edição genética. Como parte final do processo, fêmeas de cães domésticos foram utilizadas como mães de aluguel para os filhotes gerados.

Os filhotes resultantes do experimento foram nomeados Remus e Romulus — uma referência aos irmãos que, segundo a mitologia, foram alimentados por uma loba, associados à fundação de Roma — e Khaleesi, em homenagem à personagem Daenerys Targaryen de “Game of Thrones”. Atualmente, os três animais estão sendo mantidos em uma instalação de conservação privada, cuja localização é mantida em sigilo para evitar a visitação de curiosos.

A Colossal Biosciences ainda não divulgou estudos científicos que comprovem os métodos utilizados no projeto. Daniel Lahr, chefe do departamento de zoologia do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo, enfatizou que sequenciar o genoma a partir de fósseis representa um avanço significativo, mas ressaltou a importância da publicação dos dados em revistas científicas de renome. Há um consenso geral entre especialistas sobre a necessidade de cautela, com Jeremy Austin, diretor de um centro australiano que estuda DNAs antigos, afirmando que os novos filhotes são “apenas geneticamente semelhantes” ao lobo-terrível, sugerindo que se tratam de uma espécie criada com técnicas genéticas modernas, mas não verdadeiros representantes do animal extinto.

Além disso, é importante ressaltar que os filhotes não são cópias exatas do mamífero da antiguidade, pois um animal é resultado de sua composição genética e da interação com seu ambiente e ecossistema. Natalia Pasternak, professora na Universidade Columbia e na Fundação Getulio Vargas, observou que, por terem sido criados em cativeiro e em condições controladas, esses animais não representam a interação que existiria no meio natural.

As informações obtidas na pesquisa com o lobo-terrível podem ser valiosas para a preservação de outras espécies ameaçadas. Especialistas afirmam que não é necessário “desextinguir” uma espécie para ajudar na conservação de outra, já que tecnologias podem ser utilizadas para aumentar a diversidade genética em populações em perigo. Por exemplo, a introdução de genes de mamute pode auxiliar os elefantes africanos e asiáticos na sua sobrevivência.

Contudo, dado que a Colossal Biosciences é uma empresa privada com investidores e uma valorização superior a 10 bilhões de dólares, é crucial que mantenha um relacionamento transparente com a comunidade científica e evite táticas de marketing que comprometam sua credibilidade. O cuidado é necessário, já que isso remete ao caso da Theranos, uma empresa que prometia revolucionar diagnósticos médicos e mais tarde foi exposta como uma fraude. A nova iniciativa da Colossal busca ressuscitar outros animais extintos, como o pássaro dodô, o lobo-da-tasmânia e o rato-lanoso, o que poderia ser considerado uma verdadeira Arca de Noé da genética.

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