A cerca de 250 quilômetros da capital de São Paulo, encontra-se em São Carlos (SP) o maior centro de manutenção de aeronaves da América do Sul. Com uma área de 95 mil metros quadrados, o Latam MRO realiza, em média, 270 manutenções de aeronaves anualmente. A sigla MRO, em inglês, refere-se a Maintenance, Repair and Overhaul, que em português significa “Manutenção, Reparo e Revisão”. Aproximadamente 70% de toda a manutenção programada da companhia na América Latina é realizada nesse local, que conta com uma equipe de cerca de 2.000 profissionais.
O centro possui capacidade para manter até 16 aviões simultaneamente, um número que deverá aumentar, pois um novo hangar está previsto para ser inaugurado no segundo semestre deste ano. A manutenção na unidade de São Carlos abrange quase todos os modelos de aeronaves da companhia, incluindo os modelos do Airbus A320 e os Boeings 767 e 787. A única exceção é o Boeing 777, que é mantido em Guarulhos (SP). Além disso, o centro está licenciado para prestar serviços a aeronaves da Embraer e ATR, que não fazem parte da frota da Latam.
O gerente-sênior do MRO Latam, Marcos Melchiori, informou que o tempo que uma aeronave permanece no complexo pode variar de uma semana a 40 dias, dependendo da complexidade do serviço a ser realizado. Ao chegar para manutenção, o primeiro procedimento é o desabastecimento dos tanques, garantindo a segurança da equipe durante os trabalhos. Após a entrada da aeronave no hangar, inicia-se um processo de testes para identificação de falhas.
As inspeções realizadas vão desde avaliações visuais até testes não destrutivos (NDT), que permitem verificar a integridade dos componentes sem danificá-los. Após a conclusão dos serviços, a aeronave passa por um processo de remontagem, seguido de testes finais para confirmar que os problemas foram efetivamente corrigidos.
Além das manutenções programadas, o centro realiza também reparos corretivos surgidos durante voos. Um exemplo disso é um bico de um Airbus A320 que foi danificado por um choque com uma ave durante a decolagem no aeroporto do Galeão, no Rio de Janeiro. A peça foi levada ao Latam MRO para recuperação e posteriormente será repintada.
O complexo é composto por 22 oficinas, cada uma dedicada a diferentes aspectos da manutenção de aeronaves. Na oficina de trens de pouso, por exemplo, os equipamentos passam por processos de limpeza, desmontagem, inspeção e galvanoplastia. Esse tratamento com metais como cádmio, cobre e níquel é essencial para a proteção contra corrosão dos componentes.
Na oficina de eletrônica, sistemas de comunicação, painéis e componentes eletrônicos são examinados. Equipamentos chegam a essa seção para diagnóstico, onde são verificados por uma tecnologia que considera as possíveis falhas.
Na oficina de equipamentos de emergência, são mantidos os escorregadores infláveis utilizados para desembarque rápido. A revisão desses equipamentos ocorre a cada três anos, mas, quando ultrapassam 15 anos de uso, a periodicidade passa a ser anual.
O setor de termoplásticos é responsável pela fabricação de itens plásticos utilizados na cabine, como bandejas de alimentação, revestimentos, molduras de janelas e assentos sanitários. Além disso, a oficina de tapeçaria produz todos os itens têxteis, incluindo carpetes e capas de poltronas, que são substituídas a cada 36 meses, enquanto as capas são lavadas até 25 vezes antes do descarte.
Por fim, o centro também abriga uma escola de formação de mecânicos de aviação, que possui autorização da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil). Inaugurada em dezembro do ano anterior, a escola oferece um curso profissionalizante de 18 meses, com práticas utilizando peças reais de aeronaves, permitindo que os alunos tenham uma experiência autêntica na formação.