A decisão do governo dos Estados Unidos de suspender o financiamento para iniciativas de combate ao HIV e à aids poderá resultar em mais de seis milhões de mortes até 2029, conforme apontado pela UNAIDS, agência da ONU responsável pela luta contra a doença. As incertezas em relação à continuidade desse financiamento já causaram interrupções no tratamento de pacientes, especialmente em nações de baixa renda.
Durante uma revisão da política de assistência internacional, diversos milhões de dólares destinados a ajuda externa foram congelados por um período de 90 dias. Embora uma isenção temporária tenha sido concedida para o Programa de Emergência do Presidente dos EUA para a Luta contra o HIV/aids (PEPFAR), permitindo que parte dos recursos ainda seja utilizada, a situação financeira continua instável.
Christine Stegling, vice-diretora executiva da UNAIDS, destacou que os efeitos da decisão já são evidentes em várias regiões. Ela mencionou que na Etiópia, por exemplo, 5.000 profissionais de saúde pública que eram financiados pelos EUA tiveram seus contratos encerrados. Além disso, clínicas comunitárias, que dependem exclusivamente de recursos governamentais, estão enfrentando fechamentos. Essa instabilidade pode desestimular pacientes a buscar tratamento, o que pode resultar em um aumento no número de novas infecções pelo HIV.
A UNAIDS projeta que, sem o financiamento dos Estados Unidos, as mortes relacionadas à aids podem aumentar em 400% entre 2025 e 2029, resultando em 6,3 milhões de mortes que poderiam ser evitadas. Os Estados Unidos são o maior doador da OMS e financiam 75% do programa da organização voltado para HIV e outras doenças sexualmente transmissíveis. Sem esses fundos, muitos profissionais de saúde perderão seus empregos e milhões de pacientes enfrentarão a interrupção de seus tratamentos. A vice-diretora executiva sublinhou a importância de cada recurso, destacando que qualquer corte pode custar milhões de vidas e solicitou que outros países intervenham para evitar retrocessos na luta contra a aids.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) classificou a redução de recursos como uma “ameaça global”, apontando que isso compromete o acesso a tratamentos essenciais para mais de 30 milhões de pessoas. Embora outros países possam compensar a perda de recursos, como fizeram anteriormente, os desafios econômicos enfrentados por muitos países europeus, como estagnação e pressões para aumentar gastos com defesa, tornam essa compensação difícil.
Além das restrições financeiras, a administração atual dos EUA pode estar se preparando para uma possível saída definitiva da OMS. O presidente já assinou uma ordem executiva para romper os laços com a agência de saúde global. Este processo de saída pode se concretizar em janeiro de 2026. No entanto, essa não é a primeira vez que a Casa Branca ameaça cortar laços com a OMS; em 2020, o governo anterior anunciou a saída do país da organização, citando falta de transparência em relação à pandemia de covid-19, mas essa decisão foi revertida por seu sucessor em 2021. A nova suspensão de recursos representa uma nova ameaça às iniciativas de saúde pública essenciais em nível global.