Enquanto o Brasil se prepara para sediar a COP 30 em Belém, no Pará, em novembro deste ano, autoridades e representantes do setor financeiro estão acelerando a criação de regras, incentivos e produtos com o intuito de posicionar o país como uma referência global em soluções climáticas. O foco está em atrair investimentos privados para facilitar essa transição.
A edição deste ano está sendo caracterizada como a “COP da implementação”. Após quase dez anos de compromissos formais decorrentes do Acordo de Paris, as autoridades brasileiras acreditam que é o momento de transformar promessas em ações concretas. A mensagem central é a necessidade de agir em larga escala.
O Brasil possui uma matriz energética limpa, um agronegócio eficiente e um vasto estoque de recursos naturais. No entanto, como um país emergente, precisa de capital estrangeiro para ampliar seus desenvolvimentos. Embora o país tenha vantagens comparativas em diversos setores da economia, são necessários investimentos para superar desafios internos, como a baixa taxa de poupança e os altos custos de financiamento.
A implementação de estruturas híbridas e mecanismos de mitigação de riscos, tanto cambiais quanto de crédito, será essencial para mobilizar os recursos financeiros necessários para a transição climática. Somente através da inovação será possível facilitar o acesso aos trilhões de reais exigidos por essa agenda.
No contexto institucional, destaca-se que o Brasil chega à COP 30 com seu regulador do mercado de capitais sendo o primeiro do mundo a adotar oficialmente o padrão internacional de reporte de sustentabilidade. A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) implementou o padrão do International Sustainability Standards Board (ISSB), visando aumentar a transparência e a comparabilidade entre empresas.
A nova regulamentação, que entra em vigor em 2026, exigirá que as empresas brasileiras reportem riscos e oportunidades climáticas que possam afetar seus fluxos financeiros. Até lá, o envio dessas informações será voluntário, e algumas empresas, como a Vale e a Lojas Renner, já aderiram ao processo.
A CVM também está colaborando no desenvolvimento de uma taxonomia sustentável, que classificará atividades econômicas com base em critérios ambientais, sociais e de governança corporativa. Espera-se que a primeira versão da taxonomia seja publicada em agosto deste ano, com início da implementação antes da COP 30. Essa taxonomia permitirá a criação de um selo verde nacional, facilitando a alocação de recursos em projetos sustentáveis.
Os bancos têm um papel crucial na descarbonização da economia, direcionando capital para financiar a transição das empresas para modelos com menores emissões de carbono. O Banco ABC Brasil, por exemplo, criou uma mesa dedicada a soluções de carbono, medindo em tempo real as emissões indiretas relacionadas aos seus financiamentos. Um passo concreto foi a emissão do primeiro CDC carbono neutro, focado no setor de transporte e logística, com compensação das emissões por meio de projetos sustentáveis.
O objetivo não é descartar clientes de setores com altas emissões, mas sim apoiá-los na adaptação ao novo mercado, fornecendo dados, soluções personalizadas e incentivos para a mudança. As empresas brasileiras precisam se preparar para apresentar soluções na COP 30, demonstrando que o país possui exemplos concretos e um mercado financeiro capaz de liderar esta nova fase, atraindo investimentos internacionais.
Durante a COP, a intenção é que haja uma consonância entre discurso e prática. O compartilhamento de soluções que resolveram problemas reais, incluindo falhas passadas, é visto como fundamental para moldar políticas públicas e privadas eficazes.