Desfilar logo após uma das estreias mais esperadas da temporada representa um desafio para muitos designers. No entanto, para Satoshi Kondo, responsável pela linha principal da Issey Miyake, essa não é uma preocupação. A marca japonesa frequentemente transcende os padrões comuns do mercado e, em muitas ocasiões, se estabelece como um referencial para todo o setor. A apresentação atual segue essa mesma linha.
Durante a Semana de Moda de Paris, novas experiências estão sendo exploradas em relação ao modo de fazer, vestir e compreender a moda. Sarah Burton, em sua estreia na Givenchy, apresentou ternos com frentes que aparecem nas costas. Na Courrèges, uma única faixa de tecido foi transformada em um vestido. Pieter Mulier, na Alaïa, criou looks com costuras mínimas, eliminando zíperes e botões. Entre as novas marcas, como Zomer, All-in e Alainpaul, peças foram apresentadas de maneira inovadora, com cavas convertidas em golas e uma fusão de tricô, saia e alfaiataria.
Desde sua fundação na década de 1970, a Issey Miyake tem se dedicado ao estudo de formas práticas e sustentáveis de produzir e consumir moda. Os plissados característicos do estilista e as peças criadas a partir de um único pedaço de tecido são seus exemplos mais notáveis.
Na estação passada, de verão 2025, Satoshi Kondo e sua equipe exploraram essas filosofias, utilizando texturas e possibilidades do papel Washi como fonte de inspiração. Para o inverno 2025, o foco é o espaço intermediário entre estruturas binárias, considerando aquilo que existe entre dois conceitos opostos: o abstrato e o concreto, o natural e o fabricado, o corpo e o objeto, além da vestimenta e da escultura.
A apresentação teve início enquanto os convidados ainda se acomodavam em um espaço no subsolo do Museu do Louvre, que já foi sede da Semana de Moda de Paris. Na passarela, destacava-se uma grande escultura exibindo roupas de características híbridas, além de pequenos totens com peças de vestuário. Durante a busca por assentos, um grupo de artistas se movia com rapidez ou em ritmo lento, interagindo com as peças à medida que o espetáculo começava.
A performance foi conduzida pelo artista austríaco Erwin Wurm, conhecido por reinventar objetos comuns de uma maneira extraordinária. Elementos como uma blusa de tricô, uma camisa branca e uma calça podiam ser utilizados de maneiras diversas devido a alterações em suas modelagens, transformando-se em formas que lembravam obras de arte moderna.
Os dois primeiros looks apresentaram tons brancos com estampas, seguidos por um vestido vermelho de tricô com formas indefinidas. A sequência trouxe um mix de peças, algumas reconhecíveis e outras radicalmente modificadas. Camisas tinham zíperes em vez de botões, jaquetas apresentavam ombros deslocados ou inflados, e cinturas variavam entre extremamente justas e totalmente soltas, com bolsas funcionado como blusas.
Na parte final do desfile, a tecnologia foi incorporada, utilizando lã e fios de alpaca combinados com fibras sintéticas termoplásticas, resultando em um efeito áspero, rígido e levemente brilhante — uma nova interpretação dos célebres plissados de Issey Miyake.