O sutiã contemporâneo foi desenvolvido em 1889 na França, após a estilista Herminie Cadolle dividir um corset em duas partes. Este item possui uma trajetória marcada por controvérsias, representando um avanço, mas também simbolizando a opressão das mulheres.
Em 1968, integrantes do Movimento de Liberação das Mulheres realizaram um ato icônico ao queimar seus sutiãs, marcando a luta pelos direitos femininos. Mais recentemente, em 2012, o movimento Free the Nipple destacou esta peça de vestuário como um símbolo de repressão. Essas questões são relevantes no contexto do desfile de inverno de 2025 da Miu Miu, apresentado no encerramento da semana de moda de Paris.
Na atual coleção, a diretora criativa Miuccia Prada traz uma reflexão sobre a feminilidade, uma temática que já faz parte de seu trabalho. No desfile de inverno de 2025 da Prada, também em colaboração com Raf Simons, ela desconstruiu o estilo lady like dos anos 40 e 50, introduzindo silhuetas mais soltas e tecidos menos elaborados. Por sua vez, na Miu Miu, Miuccia propõe uma análise crítica sobre roupas que são comumente associadas à feminilidade. Durante o desfile, ela se questionou sobre a relevância desses acessórios, perguntando se eles ainda são úteis ou inspiradores para as mulheres.
Apesar de Miuccia não adotar uma abordagem simples, a coleção não elimina completamente esses itens. O sutiã aparece em um formato cônico, acentuando blusas leves. Em diversos momentos, ele se destaca sob vestidos, com alças caídas que redefinem o decote, abordando sua colocação na altura do colo. O formato dos seios também é integrado em casacos de lã e couro. A coleção não oculta, mas sim evidencia os mamilos.
As estolas, confeccionadas em pele sintética, também são reinterpretadas, sendo utilizadas nos braços em vez de sobre os ombros e adornadas com broches dourados. Miuccia expressou, em um comunicado, seu desejo de cultivar elegância em meio a um sentimento de tensão e ansiedade predominante, buscando criar composições simples que comungam com o cotidiano.
Neste desfile, os itens decorativos são relegados a papéis secundários, enquanto peças mais básicas, como saias de seda finas, regatas caneladas e casacos de lã escovada, são as protagonistas. A simplicidade se destaca.
A coleção ainda preserva alguns elementos clássicos da Miu Miu, como combinações inusitadas de cores, meias altas bordadas e casacos pesados, muitos deles com golas peludinhas. Após temporadas marcadas por uma sensualidade evidente, a marca retorna a um estilo geek chic que consolidou seu prestígio. No entanto, a representação da mulher Miu Miu agora apresenta uma diversidade ampliada; as modelos incluem personalidades como a atriz Sarah Paulson e a rapper trans Cortisa Star, além de homens com uma estética menos juvenil.
A coleção é inclusiva, oferecendo looks que vão desde os mais casuais até os mais sofisticados, com opções para diferentes estilos, como a nerd, a festeira, a secretária elegante e a mulher poderosa pronta para negócios. Todos os visuais refletem um caráter singular, reforçando a essência reflexiva que é característica da direção criativa de Miuccia Prada.
