No Brasil, o futebol é uma experiência que começa na infância, sendo transmitida através das ruas, do rádio e das camisetas dos times locais. Este esporte funciona como uma forma de expressão cultural, uma escola de estilo e uma fonte de memórias. Durante a noite de sexta-feira (11 de abril), o desfile da Piet, marca de Pedro Andrade, foi realizado no Estádio do Pacaembu, unindo os temas de esporte, moda e afeto, encerrando a SPFW N59. O evento, que foi aberto ao público e contou com a presença de cerca de quatro mil pessoas, é o primeiro do tipo a ocorrer no estádio após sua reforma, iniciada em 2021.
A escolha do Pacaembu para este desfile foi estratégica, considerando sua privatização em 2020 e a recente parceria com o Mercado Livre, que se tornou o principal patrocinador do estádio. Esta marca, além de apoiar o evento, também anunciou Pedro Andrade como diretor criativo da Mercado Livre Arena Pacaembu, onde será responsável pela criação de produtos oficiais e uniformes de toda a equipe que opera no local.
A nova coleção da Piet reflete uma jornada emocional na vida cotidiana dos brasileiros, desde a infância até a vida profissional, sempre permeada pela influência do futebol. Pedro Andrade elucida que a proposta não se limita ao esporte, mas explora como essa paixão impacta a vida das pessoas. A coleção é inspirada em desenhos infantis de momentos históricos do futebol, como o gol de Balotelli na Eurocopa de 2012 e o sorriso de Kaká, com desenhos exclusivos do artista grego Apostolis Dimitropoulos, e resulta em peças que evocam a realidade de quem frequenta os campos de futebol.
Pedro Andrade utiliza um tom irônico para explorar os contrastes de proporções e estilos esportivos, combinando peças de diferentes silhuetas, como tricôs que lembram meias, jaquetas de tecido telado e camisas que remetem a uniformes. Além disso, estampas camufladas trazem à tona memórias pessoais do designer, ligadas a amigos que cursaram o serviço militar e que frequentemente jogavam futebol nas horas vagas.
Outro foco da nova coleção é o equilíbrio entre o trabalho manual e a tecnologia, que tem sido uma diretriz para a marca nos últimos anos. O jeans utilizado nas calças e jaquetas, por exemplo, é fabricado em teares japoneses da década de 1950, em metragens limitadas, com tingimento à mão. Os crochês, produzidos em colaboração com o artesão Jamil Santos, fazem parte de um projeto de economia circular que visa proporcionar renda e visibilidade para comunidades locais. Andrade destaca que os preços elevados dos produtos se justificam pelo envolvimento de muitas pessoas, tempo e pesquisa, sustentando diversas cadeias produtivas.
A Piet, que iniciou sua trajetória na SPFW em 2018 e fez um segundo desfile em 2019, distanciou-se das passarelas até o seu retorno significativo agora. Este evento marca um novo capítulo para a marca, que já atua no mercado internacional, com vendas expressivas na Ásia, Europa e Estados Unidos, além de colaborar com marcas renomadas.
Atualmente, a operação da Piet fora do Brasil supera a interna, o que reflete a evolução de seu público-alvo. Andrade menciona que os consumidores da Piet se tornaram mais exigentes e hoje valorizam peças artesanais e colaborações com propósito, entendendo que a moda carrega significados além do material.
Além do trabalho com a Piet, Andrade também lidera a P.Andrade, uma marca focada em experimentação e sustentabilidade, onde explora soluções inovadoras para a indústria da moda. Esta nova linha representa uma fase mais experimental de sua carreira, onde ele busca fórmulas que aliam rastreabilidade, biotecnologia e novas abordagens de produção.
O desfile também contou com uma apresentação ao vivo do músico Marcelo D2, que expressou seu apreço pela originalidade do design de Pedro. D2 destacou que o trabalho do estilista vai além do clichê, contribuindo para a construção de um movimento autêntico dentro do streetwear brasileiro.
Com o Estádio do Pacaembu como cenário e o futebol como a linguagem que permeia a coleção, a Piet finalizou a temporada abordando temas de estilo e pertencimento. Andrade enfatiza a importancia em mostrar quão acessível pode ser o acesso à moda e ao conhecimento, antes de apresentar os produtos.
