15 abril 2025
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Tendência ou Controvérsia? A Retomada Injustificada das P…

O conservadorismo, enfatizado durante o governo de Donald Trump nos Estados Unidos, tem gerado influência em diversos setores, incluindo a moda. Atualmente, algumas tendências controversas do passado, como a valorização da magreza extrema, estão ressurgindo nas passarelas, nas redes sociais e entre os jovens da Geração Z. Um tema que tem despertado preocupações, especialmente entre ativistas, é o retorno do uso de peles na indústrias da moda.

Apesar da não dependência direta da indústria da matança de animais, já que as peles que estão em evidência são, na maioria, sintéticas ou de segunda mão, essa questão levanta debates sobre a ética do uso de peles. A discussão sobre a possibilidade de desenvolver peles sintéticas à base de plantas como uma solução tem ganhado espaço.

Na temporada de outono/inverno 2025, diversas marcas, como Tory Burch em Nova York, Simone Rocha em Londres, Fendi em Milão e Miu Miu em Paris, destacaram peles nas passarelas. Celebridades como Hailey Bieber, Kendall e Kylie Jenner, além de nomes influentes da música como Taylor Swift e Rihanna, foram vistas usando casacos de pele sintética e vintage. Este fenômeno se assemelha ao que ocorreu em 2017, quando a Gucci anunciou que não utilizaria mais peles, provocando uma onda de adesão entre outras marcas de luxo. Essa ação foi bem recebida por defensores dos direitos dos animais, mas resultou em um novo dilema: as peles autênticas foram substituídas por alternativas sintéticas, frequentemente derivadas de combustíveis fósseis. Assim, a pergunta permanece: por que o uso de peles está voltando à tona em um contexto de crescente preocupação com o bem-estar animal e ambiental?

Essa nova tendência começou a se formar no início de 2024, com um estilo chamado “esposa da máfia”, uma reação ao minimalismo associado ao “luxo silencioso”. Embora essa estética não tenha prosperado, suscitou discussões sobre a recuperação de estilos históricos para a moda contemporânea, levando a reflexões sobre como tais escolhas podem ser vistas como um escapismo, conforme mencionado por especialistas da área. Natascha Radclyffe-Thomas, professora de negócios de moda, se recorda do momento em que a Gucci anunciou sua mudança de política em relação ao uso de peles, refletindo sobre como essa decisão foi impactante para uma marca tradicionalmente associada a esse material.

Com a decisão de várias marcas de luxo de eliminar peles verdadeiras, houve uma migração para peles sintéticas mais acessíveis e coloridas, que não imitavam as peles autênticas. Atualmente, essa categoria evoluiu para produtos de alta qualidade, de modo que muitos consumidores podem não perceber a diferença entre peles verdadeiras e falsas. Contudo, esse avanço apresenta um problema, já que essas peles artificiais, embora mais duráveis e passíveis de revenda ou aluguel, contribuem para a produção de combustíveis fósseis, com o poliéster sendo o material mais comum.

Uma solução para minimizar o desperdício de peles sintéticas é promover sua reutilização. A empresa de aluguel de moda By Rotation tem visto um aumento na demanda por peles artificiais. A marca Charlotte Simone, que produz casacos de peles sintéticas, se destaca entre as mais alugadas. Eshita Kabra-Davies, fundadora da By Rotation, salientou que as peles sintéticas de alta qualidade tendem a ser mais duráveis, aumentando as chances de que sejam reutilizadas em vez de descartadas.

O mercado global de roupas de segunda mão está projetado para alcançar um valor significativo nos próximos anos, com um aumento no número de consumidores de vestuário usado. Contudo, é importante notar que, após os desfiles de outono/inverno 2025, também houve um aumento nas buscas por peles reais em plataformas de aluguel e lojas online.

A proprietária de uma boutique vintage em Londres observou uma transição nas preferências dos consumidores, uma migração de peles verdadeiras para alternativas sintéticas. Para ela, o foco atual é na venda de peças vintage. Entretanto, algumas lojas ainda mantêm a venda de peles reais, atendendo a um público jovem que busca peças antigas. Essa mudança de gosto foi discutida em artigos recentes, revelando que a Geração Z é a principal responsável pelo renascimento do interesse por peles vintage.

O aumento na demanda por peles usadas foi confirmado por um dos maiores compradores de peles nos EUA, que notou jovens universitários adquirindo essas peças, se sentindo confortáveis com a escolha das opções vintage. As recentes passarelas também exibiram peles artificiais, embora o uso de um casaco vintage verdadeiro por uma marca ética tenha causado uma reflexão sobre a natureza da moda e seus impactos.

Os defensores dos direitos dos animais permanecem críticos em relação ao uso de peles, mesmo que sejam consideradas vintage. Questões éticas são levantadas, indicando que a aceitação de qualquer forma de pele continua a refletir a dominação humana sobre os animais, algo que, segundo ativistas, deveria ser reconsiderado no contexto atual.

Uma alternativa inovadora para as peles sintéticas à base de combustíveis fósseis e peles reais é a Savian, um material 100% vegetal, confeccionado com urtiga, linho e cânhamo. Esse material, desenvolvido na Itália, foi apresentado por marcas em eventos de moda e está em processo de colaboração com variadas grifes. Contudo, o desafio de custos ainda limita a adoção ampla de materiais sustentáveis.

Além disso, a empresa envolvida na criação do Savian também participa de um programa voltado para promover inovações dentro da indústria de luxo, evidenciando o suporte às soluções mais sustentáveis. Por outro lado, a mesma empresa está ligada a uma associação que apoia a rastreabilidade das peles verdadeiras, indicando a complexidade das relações entre práticas tradicionais e inovações sustentáveis na moda.

Estudos anteriores questionam a afirmação de que as peles sintéticas têm um impacto ambiental superior ao das peles reais, sugerindo que a produção de peles naturais, como a do vison, por exemplo, resulta em maior impacto climático. A consideração destes dados, mesclados com a alta taxa de mortalidade animal e a produção massiva de vestuário, suscita questionamentos acerca da ética envolvida na contínua produção de novas peles.

Embora haja tradições culturais que justifiquem o uso de peles em algumas sociedades, o testemunho de experiências vividas por indivíduos, especialmente com formação no setor, revela uma visão crítica sobre o uso desse tipo de material, propondo uma reavaliação dos valores e escolhas dentro da indústria da moda contemporânea.

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