Os corpos de mais de doze trabalhadores humanitários foram recuperados no sul de Gaza, uma semana após seu desaparecimento em decorrência de ataques das forças israelenses. Uma agência das Nações Unidas classificou essa ação como um “grave ataque em massa”. No último domingo, 30, foram identificados oito dos 14 corpos recuperados, pertencentes a membros da Sociedade do Crescente Vermelho Palestino (PRCS, na sigla em inglês), enquanto cinco eram da defesa civil e um de um funcionário de uma agência da ONU. Um médico da Sociedade ainda está desaparecido. O corpo de uma décima quinta pessoa, um trabalhador da defesa civil, foi encontrado na última quinta-feira, 27, após a PRCS informar que não havia conseguido acesso à área anteriormente.
Na semana passada, a PRCS alegou que nove de seus técnicos de emergência estavam desaparecidos desde o dia 23 de março, após as forças israelenses dispararem contra ambulâncias e caminhões de bombeiros em Rafah. Em resposta a essas alegações, o exército israelense afirmou que atacou as ambulâncias e veículos de socorro porque acreditava que estavam sendo usados como cobertura pela Hamas e pela Jihad Islâmica Palestina. A ONU e outras organizações de ajuda mostraram indignação diante dos ataques, que foram considerados a maior tragédia para trabalhadores humanitários em quase uma década.
O Escritório de Coordenação de Assuntos Humanitários da ONU (OCHA) afirmou que os corpos foram recuperados em uma “complexa operação de resgate” que durou uma semana, envolvendo escavadeiras e maquinário pesado para desenterrar as vítimas e seus veículos. Jonathan Whittall, chefe do UNOCHA nos territórios palestinos ocupados, comentou que os profissionais de saúde nunca devem ser alvos de ataques, destacando a necessidade de proteger os trabalhadores humanitários.
Informações iniciais indicam que a primeira equipe de trabalhadores humanitários enviada à área foi morta pelas forças israelenses em 23 de março, e outras equipes que buscavam socorro foram posteriormente atacadas. Whittall relatou que os trabalhadores estavam sendo atingidos um a um enquanto buscavam seus colegas desaparecidos e que muitos estavam vestidos com seus uniformes e luvas.
Veículos de ambulância, assim como carros da ONU e da defesa civil, foram encontrados danificados e enterrados, levando Whittall a acusar as forças israelenses de tentarem ocultar a cena. De acordo com a PRCS, esses trabalhadores foram enviados à área de Al-Hashashin, em Rafah, para responder aos ataques israelenses, mas foram atacados e perderam toda comunicação com suas equipes.
As forças israelenses alegaram que atiraram em “veículos suspeitos” que se aproximavam sem sinalizar ou usar luzes de emergência. O exército afirmou ter neutralizado militantes do Hamas e da Jihad Islâmica e defendeu suas ações alegando violação das normas de segurança pelas organizações terroristas.
Os ataques ocorreram menos de uma semana após Israel ter reativado a ofensiva na Faixa de Gaza, resultando na morte de pelo menos 921 palestinos e ferimento de mais de dois mil, segundo o Ministério da Saúde de Gaza. O governo israelense não permite a entrada de jornalistas estrangeiros na região, impossibilitando a verificação independente desses números. Israel também bloqueou a entrada de ajuda humanitária, alegando que isso era necessário para pressionar o Hamas, o que gerou acusações de violação do direito internacional.
Organizações de ajuda reiteraram a necessidade de proteção para trabalhadores e serviços de saúde, enfatizando que, mesmo em conflitos complexos, as regras do Direito Internacional Humanitário devem ser respeitadas e civis devem ser protegidos. Os hospitais em Gaza têm enfrentado ataques severos, e cerca de 400 trabalhadores humanitários foram mortos em ataques israelenses na região desde 7 de outubro de 2023. A PRCS registrou 27 de seus funcionários mortos desde essa data. As autoridades de saúde em Gaza relataram que o número total de mortos desde o início do conflito ultrapassou 50 mil, um marco devastador para a situação no território.