Um evento singular ocorreu na última quarta-feira (12), envolvendo um jovem indígena de comunidades isoladas na região de Mamoriá Grande, no Amazonas, que estabeleceu contato com uma comunidade ribeirinha ao longo do rio Purus. Informações da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) indicam que o jovem, que optou por entrar em contato de forma voluntária, foi acompanhado pelo órgão federal em seu retorno à sua comunidade, com a implementação de medidas para prevenir o contágio por doenças que poderiam ser fatais para seu grupo.
As imagens registradas mostram o jovem interagindo com os habitantes locais e aprendendo a utilizar um isqueiro, uma tecnologia ainda desconhecida para os indígenas que não mantêm contato com a sociedade externa. Discussões sobre essas interações foram realizadas com especialistas, como Soraya Zaiden, que é ativista na área de direitos indígenas. Segundo ela, o Brasil adota uma política de não contato desde 1987, permitindo que os povos isolados realizem a iniciativa de contato quando desejarem. No entanto, esses encontros costumam ser raros e frequentemente geram situações conflituosas, podendo resultar em confrontos e até mortes.
É importante ressaltar que o indígena envolvido nesse caso não é obrigado a retornar à sua região de origem. A Funai assegura que ele possui autonomia para decidir seu futuro, além de implementar medidas para garantir sua proteção. Caso o jovem decida se integrar a outra comunidade, a Funai tem a responsabilidade de fornecer proteção e acompanhar esse deslocamento de forma contínua.
Especialistas alertam sobre a presença de invasores na região de Mamoriá Grande, envolvidos em atividades ilegais, como pesca e exploração de madeira, que afetam o ambiente de comunidades isoladas. A Funai reconhece a existência de cerca de 114 registros de povos indígenas isolados no Brasil, predominantemente localizados na Amazônia. A Constituição Federal assegura a esses grupos o direito a manter sua cultura e modo de vida, protegendo-os de ameaças externas e garantindo seus direitos territoriais.
A política de proteção aos povos isolados é implementada pela Funai, cujo objetivo é monitorar e proteger as áreas circunvizinhas às terras indígenas, além de demarcar essas terras. A abordagem principal é a estratégia de “não contato”, intervindo somente em situações de ameaça iminente, com foco na preservação da integridade física e cultural desses grupos. Além da demarcação das terras, a Funai utiliza o mecanismo de “Restrição de Uso” em áreas onde existem povos isolados fora das terras já demarcadas, restringindo o acesso de terceiros. Em conjunto com o Ministério da Saúde, a Funai também realiza ações de atenção à saúde dessas comunidades.
